segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Rio de Sangue.

Em meio ao fogo cruzado nos olhamos e dissemos: Até breve. No meu caminho solitário só podia pensar em como estaria sendo o caminho dela. O medo de algo lhe acontecer era o que me amedrontava. Cheguei no meu ponto, subi no meu ônibus e sentei. As pessoas ao meu redor pareciam mudas, o medo estava estampado no silêncio, a apreensão na expressão de cada face ali presente.
Lembrei de filmes como Apocalipse ou outro qualquer sobre o fim do mundo. A cena de um veículo inidentificável em chamas assustava e confirmava ainda mais a imagem de um possível amargedom em minha cabeça. Os únicos comentários que eu ouvia eram: “Eles estão pagando por isso, a polícia vai trazer a paz” ou “Já ta na hora de aprovarem pena de morte pra esses assassinos frios”. Mas será que aqueles homens tinham calculado com tamanha frieza cada ato daqueles por pura maldade ou psicopatia? O que os levou a tal situação?
O objetivo de sobrevivência talvez tenha se sobressaído à bondade humana. Mas eu sabia que aquilo ali não era simplesmente o fato de ser bom ou ser mau. Era a Barbárie, inevitável a não ser que todos se unissem para quebrar aquele sistema. Guerra ao tráfico?
Não. Isso não é solução... Afinal quem é inocente o suficiente para achar que só de maconha se alimenta o comércio das armas? É algo muito maior, um sistema que envolve até mesmo você que simplesmente trabalha honestamente. Acredite até mesmo você é usado para alimentar esse show de horrores que a mídia publica como a salvação da pátria. O mesmo artifício que é usado pra reprimir o povo Haitiano, hoje reprime também os Cariocas carentes, o pior é que isso é louvado pela população amedrontada. Medo deveríamos ter de apoiar esse fascismo, que um dia mostrará sua face. Repugnaremos-nos de termos ovacionado todos esses cretinos.
A empresa em que você trabalha, onde você é explorado, e onde você produz riquezas que ficarão na mão de um homem qualquer que muitas vezes você próprio desconhece, apóia outras empresas. Algumas dessas empresas vendem mais do que os simples produtos que dizem vender.
São essas empresas que vêem o seu dinheiro fluir no tráfico de armas... São esses os verdadeiros bandidos que nesse momento enriquecem com a morte de milhares de negros nos morros. A riqueza nesse mundo é cruel e empobrece o homem, apodrece as virtudes. O que aqui no Rio acontece hoje não é mais do que a demonstração de quem é o inimigo real.
Os ditos marginais não têm chances contra tanques de guerra e frotas e mais frotas armadas, os moradores inocentes são abordados sem respeito algum por peões do capitalismo, que são só mãos sujas com sangue negro e carioca.
Quem organiza tudo não é o Zé da maconha, ou o João da cocaína. São os caras que nesse momento estão bem longe desse pandemônio, lucrando e rindo por saberem que venderam e venderão mais e mais, e que esse mar de sangue que banha o Rio de Janeiro é na verdade seu mar de ouro.
A mídia comprada por esses Cachorros, já que não acho que estes são dignos de serem chamados de homens, faz um verdadeiro teatro em torno de tudo, glamourizando todo o caos como se fosse um filme de Hollywood. Os programas de TV atingem audiência máxima, as forças militares são exaltadas, os Cachorros continuam ganhando seus milhões, a Zona Sul aplaude as autoridades de pé, os governantes sorriem por estarem fazendo “o bem para a população de bem” e a favela chora a morte de seus filhos.
E eu? Eu sou só mais uma refém, mais uma refém do capital. Mais uma dentre milhares de cariocas desesperados que ligam de 5 em 5 minutos para o seu amor, sua mãe, seus amigos, pra saber se todos estão bem... Se não tem ninguém ferido, se nenhum de nossos queridos foi mais uma vítima a entrar para as estatísticas.
Chego em casa e ligo para minha amada, ela me atende meio chorosa. Preocupada pergunto o que aconteceu, se alguém se feriu ou algo assim... Ela aos soluços me responde:

_Aqui em casa estão todos bem...
_Então porque o choro?
_Porque agora eu percebo que quem ta morrendo mesmo é quem tenta sobreviver e quem vive de fato é quem mata milhões todos os dias.

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