terça-feira, 14 de dezembro de 2010

No Stress!

Como não se estressar?
Digita daqui, corre de lá, pega o ônibus, paga as contas, lava a pia gigantesca de louça, faz prova, tira a roupa do varáu, e enfrenta o trânsito... Um dia inteiro de trabalho incessante para no dia seguinte começar tudo de novo.
Cotidiano: O grande mestre Chico acertou ao fazer essa música onde cada reação, que deveria ser expontânea, passa a ser parte da rotina. O estresse faz parte da minha rotina. Meu cotidiano não é tão pontual quanto o da música, mas na real... Parece que a cada dia que passa vejo um videotape do dia anterior.
A vida é assim... Melhor dizendo: a vida não é assim. A sociedade a faz ser dessa forma. A rotina nossa de cada dia não é uma escolha minha ou sua. Nem é naturalmente existente. É só mais uma norma social que todos nós seguimos, pois a sociedade é assim. (Lógico não?)
Quando digo: "A vida me estressa!" na verdade digo: "A sociedade me estressa." Mas do que adianta reclamar? Vou continuar estressada, meu cotidiano vai continuar sendo o mesmo, isto é, enquanto a sociedade permanecer sendo a mesma.
As vezes parece impossível viver com tanta coisa irritante ao meu redor. Porém para a maioria idiota das pessoas o impossível parece ser viver sem todo esse caos que acaba deixando os dias insuportáveis. Como podem ser tão estúpidos? Será que realmente acham que esse sistema ridiculamente massacrante é mesmo o melhor? Será que acham que é realmente democrático termos que viver da forma da norma sem podermos nem mesmo questionar ou tentar mudar o que já existe sem sermos chamados de loucos?
Todos os dias o trânsito incomoda, o salário baixo incomoda, as matérias chatas incomodam, o chefe truculento incomoda, os preconceitos incomodam, as tarefas incomodam... Mas irônicamente as pessoas se acomodam e parecem não se incomodar com todo esse inferno!
Por falar em inferno, quem inventou o inferno deve ser um sadista ou, no mínimo, o cara mais pessimista do mundo. Afinal, imaginar algo pior do que o que nós "vivemos" é um feito para alguém que gosta muito de sofrer ou, na melhor das hipóteses, alguém com uma grande imaginação trágica!
Falemos a verdade... Para quem enfrenta todo o dia o estresse da rotina no sol infernal do verão do Rio de Janeiro, o inferno, aquele em que quem reina é o famoso Sr. Capeta, até que seria um local amável desde que só ficassemos lá pegando fogo eternamente... Afinal quem já estudou biologia sabe que as espécies têm um grande poder adaptativo, depois de uns anos no inferno provavelmente o calor já nem incomodaria. E viver na caldeira, mas pelo menos sem as cruzes que temos que carregar no nosso dia a dia, seria sem dúvida uma idéia bem agradável. Vai ver que ta ai a explicação! As pessoas devem se adaptar a todo esse caos...
Já começo a duvidar da minha possível sobrevivencia ao inferno. Mas ainda garanto que a idéia de sobreviver milênios nas chamas infernais, é muito mais atrativa a permanecer mais cem anos com todo esse estresse!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O poeta que não sabia amar.

Uma vez disseram a um grande poeta romântico e apaixonado que existia um outro poeta, frio, calmo e que nunca havia amado. Ele perguntou incrédulo:

_Um poeta que não ama escreve sobre o que?

O homem que contava a história constrangido respondeu:

_Sobre o amor.

_Impossivel! (Concluiu o romântico.) Ninguém escreve sobre o amor sem ter amado.

_Acredite cumpadre, este escreve...

Ainda sem crer o romântico disse que queria este homem conhecer. E assim foi... O homem realmente era duro, embrutecido, não tinha sentimentos. Mas sabia fazer a poesia como só ele. O romântico se sentiu um nada, começou a ver que sua poesia não era tão bela, tão singela... Não podia acreditar! Logo ele que amava feito um louco. Vivia apaixonado excrevendo sobre as mulheres, foi deixado para trás pela poesia de um mau-amado que nem ao menos conhecia uma dama de verdade.
O romântico já não podia escrever. Gastava seu tempo a tentar entender, o que levava o poeta que não sabia amar a escrever tão lindamente sobre o amor. No fim das contas o romântico começou a achar que nunca tinha amado. E o poeta que não sabia amar, só sabia escrever sobre o amor. E de tanto escrever acabou amando. Não uma dama como o romântico havia amado, mas sim o amor e sua maior manifestação: Poesia

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pobre não tem mais lugar

Eu só quero é ser feliz
Andar tranqüilamente na favela onde eu nasci
E poder me orgulhar
E ter na consciência que o pobre tem seu lugar

Mas agora não tem não
Pobre não tem mais lugar
A policia invade o morro
Só pensando em matar

Fuzila a população
Matando trabalhador
Sem compaixão nem honra
Sai tocando o terror
Tira a vida da minha filha
Da a dura no rapaz
Transformando essa guerra
Em bandeira de paz

Eu só quero é ser feliz
Andar tranqüilamente na favela onde eu nasci
E poder me orgulhar
E ter na consciência que o pobre tem seu lugar

Mas agora não tem não
Pobre não tem mais lugar
A policia invade o morro
Só pensando em matar

Entra aqui com ignorância
Sem saber quem é delinqüente
Não respeitam o favelado
Só oprimem nossa gente
Se tu és honesto e negro
Já virou preto bandido
Pois matar quem é da favela
É ver seu dever cumprido

Eu só quero é ser feliz...
Mas tudo o que eu vejo
É morte onde eu cresci

E poder me orgulhar...
Mas vejo que agora
Só posso me lamentar

Eu só quero é ser feliz
Andar tranqüilamente na favela onde eu nasci
Mas não posso escapar
Dessa policia esnobe que invade o meu lar

Mas eu só quero é ser feliz
Feliz, feliz, feliz... Onde eu nasci
E poder me orgulhar
E ter na consciência que o pobre tem seu lugar

Mas agora não tem não
Pobre não tem mais lugar
A polícia invade o morro
Só pensando em matar

Já tiraram os meus direitos
Agora tiram minha vida
Põe a arma no meu peito
E dizem que isso é justiça.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ultima vez

Eu estava mais uma vez em uma festa com meus colegas, dessa vez na casa de Pedro. Tinha bebido um pouco, dancei, conversei curti... Resolvi ir embora quando deu meia-noite, mais ou menos. Quando eu estava de saída ela me perguntou:

_Alinne... Posso dormir na sua casa hoje?

Eu fiquei estática com o pedido. Fazia tempos que nós não nos falávamos direito. Não que eu a odiasse, ou vice e versa, muito pelo contrário. Apesar de termos terminado com um puta barraco no aniversário da Sandrinha, outra amiga nossa, nós conseguimos estabelecer uma relação menos tensa, por conta do nosso círculo social, mas evitávamos aproximarmo-nos de mais.

_É que eu não tenho lugar pra dormir hoje, quer dizer, eu até poderia ir pra casa, mas minha mãe brigou comigo e eu não queria me estressar de mais...
_Tudo bem... (Eu disse sem fazer cerimônia, mas tentando não imaginar coisas.)

Pegamos o ônibus e fomos juntas para São Cristóvão, onde eu moro. Entramos em casa, e eu aprontei a cama para ela e lhe dei uma toalha. Depois fui comer algo na cozinha. Após comer um sanduíche de frango e escovar meus dentes fui arrumar o sofá cama para mim, enquanto apanhava do lençol, que não ficava esticado de jeito maneira, uma voz por trás de mim  ecoou pelo cômodo silencioso.

_Eu não me importo de dormir na mesma cama que você. (Yasmim disse com uma voz  melodicamente sensual)

Eu a encarei com uma expressão, creio eu, estranha.

_Não me importo de dormir na sala. (Respondi friamente.)
_Desculpa... É que eu sinto que estou te incomodando. (Ela disse sentando-se fofamente no puf da sala.)

Yasmim era muito atraente, seu rosto arredondado e seus olhos de indiazinha eram um charme a parte. Seu corpo belo e seu jeito incrivelmente cativante. Ela me olhou com aqueles antigos olhos de ternura, o que me deixou, por segundos, trêmula.

_Não está incomodando... Eu queria ver um filme que eu tinha alugado. (Menti.)
_Que filme? (Ela perguntou imediatamente.)
_Aaaa... (Comecei a pensar desesperadamente em algum filme que eu tivesse em casa e que eu nunca tivesse  assistido com ela.) Imagine eu e você... (Disse sem lembrar nenhum filme melhor para usar de desculpa.)

Ela abriu um sorriso e me perguntou:

_Posso ver com você? Eu to para pegar esse filme na locadora há séculos, mas sabe como é né? Toda semana um lançamento novo...
_Claro. (Disse a contragosto.) Senta ai...

Ela nitidamente havia mentido quando disse que não tinha assistido ao filme. Ria antecipadamente às piadas e ficava eufórica antes das cenas mais clímax. Ela estava absurdamente atraente com aquele vestido preto, reparei em um momento de distração por suas curvas. Voltei a atenção para a TV.
Ela se insinuava e eu não dava bola, vendo que eu iria resistir ela se aproximava cada vez mais, eu já quase caindo do sofá tentando manter distância. Não que eu não quisesse me aproximar, ou não quisesse tê-la. A verdade é que eu já imaginava que aquilo tudo não passaria de mais uma noite de sexo, com um leve resquício de sentimento.
O filme acabou, quando eu estava tirando o DVD meus ouvidos escutaram:

_Imagine me and you… (Ela começou a cantar o tema do filme.)
_I do. (Devolvi)
_I think about you day and night...
_It's only right!
_To think about the girl you love
_And hold her tight? (Perguntei com nítido sarcasmo.)
_So happy together…
_Unfortunately the imaginary isn’t real (Terminei a cantoria à minha maneira.)

Ela ficou nitidamente frustrada. Deitei no sofá-cama e lhe desejei boa noite. Ela foi indo em direção do quarto, mas no meio do caminho resolveu perguntar:

_Não quer mesmo deitar na sua cama? Eu divido com você na boa... Se quiser.
_To bem aqui. (Respondi secamente tapando a cara com o edredom.)

“Ela desistiu” foi o que pensei. Apaguei. No meio da noite fui acordada pelo zunido de um mosquito. Quando abro os olhos vejo aquele lindo rosto repousado em meu seio, e suas delicadas mãos enlaçavam minha cintura.
Toquei em seus finos cabelos negros com delicadeza, sentindo seu perfume que exalava toda a pureza daquele gesto de sincera saudade. Fechei os olhos apreciando aquele momento de ternura e quando os abri me vi acuada por um par de jabuticabas cintilantes que me encaravam de um jeito sublime e sedutor. Tentei me desvencilhar de seu corpo, mas já era tarde. Ela puxou meu rosto de encontro ao seu. Delicada e deliciosamente tocou seus lábios nos meus.
Um beijo. Quase eterno beijo. Arranhões, puxões, carícias dos pés á cabeça. Paixão. Um beijo que se prolongava, mãos que deslizavam pelas curvas de nossos corpos, que agora eram um só. Uma sensação divina que durou pelo resto da madrugada.
Acordei ainda com a sensação de seu corpo sobre o meu... Só com a sensação. Ela já não estava mais junto de mim. Levantei-me e fui ao banheiro lavar o rosto para ver se tudo não havia passado de um sonho. Sequei o rosto na primeira toalha que vi. Senti o seu cheiro, havia sido a toalha que eu havia a emprestado. O seu perfume impregnou sob a pele do meu rosto.
No meu quarto a cama intacta, ela não parecia ter nem mesmo ficado mais de dois minutos no cômodo. Deve ter esperado eu cair no sono para deitar-se ao meu lado.
Na entrada a chave, devia ter sido jogada por debaixo da porta, descansava sozinha no chão de taco. Voltando para a sala vi o espelho do corredor com uma marca de batom, nitidamente feita pelos lábios de Yasmim. Olhei meu reflexo, meu rosto meio masculinizado pelo corte de cabelo, estava inchado de sono. Meus olhos vermelho, mas dessa vez de lacrimejar. Segurei o choro e fui pro quarto deitar em minha cama. Na mesa de cabeceira um guardanapo onde estava escrito:

“Sincera é a noite mais bela
Que exausta o corpo com o seu brilho
E acaba serena e silenciosa
Deixando em mim apenas a tristeza
Do fim da sensação maravilhosa
De estar debaixo das estrelas.”


E após pegar aquele papel, amassar e jogar fora... Após tirar do espelho aquela marca vermelho-rouge... Percebi que eu estava errada. Aquilo não foi só uma noite de sexo, foi uma última noite de amor.

Gabriela

Eu sabia que jamais poderia chamá-la de meu amor.
Sabia que não deveria nunca ter tomado-a em meus braços.
Nunca deveria ter lhe dado carinhos além de abraços.
Nunca deveria ter a olhado com malícia.
Nunca poderia ter aceitado suas carícias
Nem suas palavras de paixão.
Não podia ter lhe entregue o meu coração.
Mas o que eu posso fazer?
Ela também me entregou o dela.
Quando me beijou na capela.
Debaixo do altar
Aonde ninguém ia nos procurar
Onde a gente podia se amar.
Lembro-me como se fosse ontem.
Foi em uma noite sem lua.
Ela estava em minha cama, completamente nua.
Alguém nos viu trocar carícias.
Alguém achou aquilo mau.
Mamãe me disse: a culpa é sua.
Cometi um pecado, fiz algo imoral.
Pelo menos é o que ouvi na eucaristia.
Dizem que o que fiz, foi um ato carnal.
Queria ter uma caixa vazia.
No lugar do coração.
Quem sabe assim eu me arrependia
E conseguia meu perdão
Mas do que me adianta a redenção?
Se eu não posso mais tocar aquela pele cor de canela?
Do que adianta nos céus ir viver
Se simplesmente não posso ter ela.
Às vezes me acho insana, impura.
Mas o que posso fazer?
Amor não tem cura.
Quem se ama, não é algo que podemos escolher.
Simplesmente sentimos um frio na barriga...
Assim como eu senti por ela.
O seu nome? Gabriela
Minha irmã, minha amiga.
Porque não minha namorada?
Porque não minha querida?
Seria uma relação predestinada a ser desastrada?
Ou seria simples se não fosse os caprichos humanos?
Não sei, nem viverei para saber.
Tenho outros planos.
Eu quero e vou renascer.
Por isso agora eu encontro a morte.
Para em outra vida, poder ter ela
Minha morena, cor de canela.
Minha eterna amante Gabriela.

Coletânea

Uma incógnita singular, impossível de decifrar, difícil é te prever. Alguém que é o meu ar e ao mesmo tempo me sufoca com seu jeito de ser. Essa "é você"!

Tentei fazer uma coletânea para poder melhor lhe descrever. Tudo começou com um “Puro êxtase”, que me fez perder a noção do perigo. Me fez pegar tua mão e junto de ti pular em um abismo. Um beijo, um dia, depois daquilo achei que estaríamos sempre unidas, ficou claro que não cabia mais sermos somente amigas.
“Quase sem querer”, foi assim que me apaixonei por você. Te avisei que eu só sei dizer que te amo, afinal “você só me ensinou a te querer”. Você se tornou “the only exception”, a única que realmente conseguiu entrar no peito.
Descobri aos poucos que assim como a lua, você era uma “mulher de fases”. Então resolvi deixar a saudade chegar e o ciúme bater. E mesmo quando você estava na sua fase cheia de mim, o teu “laranja” era o que me fazia ficar bem mais feliz.
Deixei as setas para você seguir, caminhos simples, tarefas fáceis para não deixar toda a nossa grandeza ruir. Mas “pra ser sincero”: Meu remédio é te amar. Mas minha doença é você.
Queria arrumar uma bela canção para dar desfecho à minha coletânea de emoções, mas as coisas são assim e o que será, será. Nem tudo é belo, por isso espero que você compreenda minha forma direta de falar... “Você não soube me amar.”



Sim escrevi para você que é passado. Pois agora vou viver o presente sem tentar prever o futuro.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Público.

Era um simples pedido, um beijo. Um pedido um tanto comum vindo dela, teoricamente simples, já que era só mais um entre tantos. O problema é que existem coisas que só fazemos quando ninguém nos vê fazendo. Ou que só podemos fazer quando ninguém pode nos ver. Não era essa a situação.
Estávamos bem expostas, isso me incomodava. Ela já estava fechando a cara para minha “não-reação”. Mas o que eu podia fazer? Ela me deixou estática com um pedido em tal situação, era tentador, mas eu não podia.
Aquela fragrância alucinógena do seu perfume me fazia desejar agir tanto quanto ela queria que eu agisse. Mas quando eu olhava ao redor e via a festa cheia de gente que estava rolando... Pensava em como seria depois, olhares curiosos, comentários nada agradáveis... Complicado.
O que é que eu to falando? Era só um beijo? Que mal havia? No final era a mesma coisa independente se haviam pessoas no local ou não, ia ser boca na boca, boca na língua, língua na boca, língua na língua... Um simples e inofensivo beijo de língua entre duas pessoas que se gostam.
Não, esse medo não era vergonha de eu, menina, estar beijando outra garota. Eu não tenho vergonha do que sou, nem de que saibam quem eu sou. Tenho medo da repressão. Porquê? Por que dentre uma festa onde haviam  vários outros casais demonstrando seu afeto eu me mantinha fria?
Acho que o que me acovardava eram aqueles rostos ébrios ao redor. Não que eu ligasse para o que os outros pensam, mas... Não gosto de ser incomodada nem de incomodar. Mas por que isso seria incomodo para alguém? Afinal tinham tantos outros casais se beijando na pista de dança...
Acho que o empecilho de verdade nesse caso, não era vergonha do que sou, nem medo de ser inconveniente. O único medo que me persegue é dos rótulos e retaliações. Eu não estaria desrespeitando ninguém ao puxar a minha morena e lhe dar aquele beijo. Mas eu sabia que não respeitariam a minha liberdade de expressar meu amor, pelo simples fato de ser um amor diferente.
Olhei para a minha morena, já emburrada comigo, sorri e dei-lhe um beijo na bochecha. A levei para um lugar mais sossegado, onde não havia olhares maliciosos nem línguas afiadas. Somente nossas línguas se comunicando e fazendo amor.

Rio de Sangue.

Em meio ao fogo cruzado nos olhamos e dissemos: Até breve. No meu caminho solitário só podia pensar em como estaria sendo o caminho dela. O medo de algo lhe acontecer era o que me amedrontava. Cheguei no meu ponto, subi no meu ônibus e sentei. As pessoas ao meu redor pareciam mudas, o medo estava estampado no silêncio, a apreensão na expressão de cada face ali presente.
Lembrei de filmes como Apocalipse ou outro qualquer sobre o fim do mundo. A cena de um veículo inidentificável em chamas assustava e confirmava ainda mais a imagem de um possível amargedom em minha cabeça. Os únicos comentários que eu ouvia eram: “Eles estão pagando por isso, a polícia vai trazer a paz” ou “Já ta na hora de aprovarem pena de morte pra esses assassinos frios”. Mas será que aqueles homens tinham calculado com tamanha frieza cada ato daqueles por pura maldade ou psicopatia? O que os levou a tal situação?
O objetivo de sobrevivência talvez tenha se sobressaído à bondade humana. Mas eu sabia que aquilo ali não era simplesmente o fato de ser bom ou ser mau. Era a Barbárie, inevitável a não ser que todos se unissem para quebrar aquele sistema. Guerra ao tráfico?
Não. Isso não é solução... Afinal quem é inocente o suficiente para achar que só de maconha se alimenta o comércio das armas? É algo muito maior, um sistema que envolve até mesmo você que simplesmente trabalha honestamente. Acredite até mesmo você é usado para alimentar esse show de horrores que a mídia publica como a salvação da pátria. O mesmo artifício que é usado pra reprimir o povo Haitiano, hoje reprime também os Cariocas carentes, o pior é que isso é louvado pela população amedrontada. Medo deveríamos ter de apoiar esse fascismo, que um dia mostrará sua face. Repugnaremos-nos de termos ovacionado todos esses cretinos.
A empresa em que você trabalha, onde você é explorado, e onde você produz riquezas que ficarão na mão de um homem qualquer que muitas vezes você próprio desconhece, apóia outras empresas. Algumas dessas empresas vendem mais do que os simples produtos que dizem vender.
São essas empresas que vêem o seu dinheiro fluir no tráfico de armas... São esses os verdadeiros bandidos que nesse momento enriquecem com a morte de milhares de negros nos morros. A riqueza nesse mundo é cruel e empobrece o homem, apodrece as virtudes. O que aqui no Rio acontece hoje não é mais do que a demonstração de quem é o inimigo real.
Os ditos marginais não têm chances contra tanques de guerra e frotas e mais frotas armadas, os moradores inocentes são abordados sem respeito algum por peões do capitalismo, que são só mãos sujas com sangue negro e carioca.
Quem organiza tudo não é o Zé da maconha, ou o João da cocaína. São os caras que nesse momento estão bem longe desse pandemônio, lucrando e rindo por saberem que venderam e venderão mais e mais, e que esse mar de sangue que banha o Rio de Janeiro é na verdade seu mar de ouro.
A mídia comprada por esses Cachorros, já que não acho que estes são dignos de serem chamados de homens, faz um verdadeiro teatro em torno de tudo, glamourizando todo o caos como se fosse um filme de Hollywood. Os programas de TV atingem audiência máxima, as forças militares são exaltadas, os Cachorros continuam ganhando seus milhões, a Zona Sul aplaude as autoridades de pé, os governantes sorriem por estarem fazendo “o bem para a população de bem” e a favela chora a morte de seus filhos.
E eu? Eu sou só mais uma refém, mais uma refém do capital. Mais uma dentre milhares de cariocas desesperados que ligam de 5 em 5 minutos para o seu amor, sua mãe, seus amigos, pra saber se todos estão bem... Se não tem ninguém ferido, se nenhum de nossos queridos foi mais uma vítima a entrar para as estatísticas.
Chego em casa e ligo para minha amada, ela me atende meio chorosa. Preocupada pergunto o que aconteceu, se alguém se feriu ou algo assim... Ela aos soluços me responde:

_Aqui em casa estão todos bem...
_Então porque o choro?
_Porque agora eu percebo que quem ta morrendo mesmo é quem tenta sobreviver e quem vive de fato é quem mata milhões todos os dias.

Eu uso o W.C.!



Oras! Estou irritada, digo mesmo, que inferno que é essa sociedade! Sobe escada de cá, corre pra lá, fica na fila aqui, corre pra não perder o horário, tudo pra conseguir arrumar uma papelada do caramba, pra poder receber outro bolo de papelada para assinar... Que desnecessário! Enfim, depois de um dia estressante enfrentando as burocracias da vida, quando eu mais queria paz, sossego e privacidade... O que eu recebo? Uma baita duma barrada!
Não, eu não fui barrada de um bar ou de uma festa. Enquanto as menininhas padrões da tv são barradas do baile, eu sou barrada do banheiro. Como se não fosse o suficiente o absurdo de eu ter eu pagar pra usar um banheiro na rodoviária, eu ainda tenho que escutar:

_Esse é o banheiro feminino.

Mas que idiota! É óbvio que é o banheiro feminino! Ela achou que eu ia querer entrar aonde? Enfim... Eu olhei para a cara da senhora que me encarava com cara de poucos amigos. Intrigantemente aquele olhar de repressão dela acabou me deixando constrangida o suficiente para o acesso de fúria que eu estava tendo se esvair para uma estúpida e ingrata vergonha. Cabisbaixa e entre os dentes soltei:

_Eu sou uma menina.

Tentei me dirigir para dentro do local, mas senti uma mão me empurrando de volta.

_Já disse que aqui é o banheiro feminino! (Ela falou arrogante.)
_Já disse que sou uma menina! (Respondi aos berros chamando a atenção de todos que estavam no local.)

Envergonhada tentei seguir em frente rumo ao banheiro, mas a infeliz continuou me importunando:

_Aqui só entram meninas normais. Isso é um lugar de família!

As meninas atrás de mim na fila gargalharam. Eu estava enfezada. A vontade de fazer xixi já nem me incomodava. Alguma das meninas que estavam rindo falou:

_Sai logo daí “gatíssima”, tem gente apertada aqui!

Revirei os olhos com o comentário idiota. O que eu iria fazer? A sociedade estava contra mim, minha aparência era contra a sociedade, minha sexualidade era contra os padrões e os padrões eram contra a minha individualidade. Liberdade de expressão: Será que realmente a temos?
Não ia deixar aquilo  daquela forma, era uma briga maior do que simplesmente segurar o mijo ou enfrentar um grupo de pessoas escrotas. Era a briga pela minha liberdade e pela liberdade de todo um grupo que passa pelas mesmas bizarrices que eu passo. Encarei a mulher que estava em minha frente, cruzei os braços e falei em alto e bom tom:

_Se eu não entro ninguém entra!

As meninas da fila começaram a murmurar entre si. Nisso saíram duas mulheres do banheiro, quero dizer, duas mulheres tentaram sair do banheiro. Segurei a roleta e falei:

_Se eu não entro ninguém entra e ninguém sai!

As moças se encararam e uma delas falou:

_Que absurdo é esse? Eu tenho que pegar um ônibus! Sai da frente!
_Absurdo é eu ter que pagar pra ir na porra do banheiro e mesmo pagando ainda ter que ouvir gracinhas dessa escrota que não quer me deixar mijar!
_Iiiii falou o macho! (Uma menina atrás de mim zoou.) Vamos logo! Eu quero usar o banheiro!
_Mas porque ela não pode usar o banheiro? (Uma das meninas que estava saindo perguntou sem entender o motivo da confusão.)
_Ela é quase um garoto! (A mulher se justificou.) Não posso deixar ela entrar, imagina as outras meninas tendo que aturar uma sapatão no banheiro!
_Que? (A outra garota que estava querendo sair perguntou incrédula.) Isso é um absurdo! Você não pode impedir ela de usar o banheiro só porque ela usa roupas mais masculinas!
_E ser lésbica não impede ninguém de usar o banheiro feminino! Isso é um puta preconceito! (A primeira menina que estava saindo falou.)
_Não vou deixar! (A senhora insistiu.) Sai da frente logo criatura! (Ela disse tentando me afastar da roleta.)
_Só saio depois de usar o banheiro!
_Aaaa quer saber? Isso é o cúmulo. (A outra menina falou empurrando a senhora para afastá-la de mim.) O que é eu pode acontecer de ruim se ela usar o banheiro? Homossexualidade não é doença e muito menos contagioso minha senhora!
_Ela vai ficar se esfregando lá dentro com mulher se eu deixar ela entrar! ( A senhora disse voltando a tentar me afastar da roleta.)
_Aaaa é disso que você tem medo é? (A primeira garota disse olhando de rabo de olho e se aproximando.) Sem problemas a gente se esfrega aqui mesmo.

Ela empurrou a velha pro lado a fazendo-a cambalear, me puxou pela gravata e me deu um beijaaaaaaasso. A velha arregalou os olhos em estado catatônico e as meninas na fila fizeram cara de nojo. Eu simplesmente correspondi o beijo rindo por dentro de toda aquela confusão que eu tinha causado.
Quando nos separamos ela me puxou para dentro do banheiro. Cochichos e murmurinhos começaram a rolar a solta. Nem me importei, usei o sanitário, lavei as mãos e quando saí ela estava me esperando junto com a amiga do lado de fora. As meninas na fila me olhavam aterrorizadas, a mulher do guichê bufava de ódio, eu saí com um sorrisinho vingativo no rosto e dei um selinho na garota que tinha me agarrado.

_Qual o seu nome? (Ela me perguntou.)
_Bruna, mas pode chamar de Xuxú (Eu respondi.)
_Eu sou a Melissa... Essa é minha amiga Catharina. O que você faz?
_Eu uso o W.C.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Imaginário.

Por que reescrever a realidade quando sabemos que os personagens reais, o contexto real, a ideologia vigente de verdade, tudo isso é completamente diferente da ficção imaginativa das fanfictions, por exemplo? Minhas fanfiction, ao contrário do contexto real de fanfic, não são baseadas em uma outra ficção já existentes. Minhas fanfictions reescrevem a vida real, a minha e a de outros ao meu redor. Por que? Por que reescrever algo que já aconteceu de forma diferente?
Talvez seja pelo simples desejo de modificar a realidade que não é tão bela, ou simplesmente embelezar mais ainda os poucos momentos belos. Ou talvez seja a expressão da minha impotência de revolucionar o mundo real sozinha. Já não posso fazer sozinha a revolução da vida real... Querem agora me privar de revolucionar minha própria imaginação?
O perfeito, os deuses, a magia, o "felizes para sempre", tudo isso só existe na nossa imaginação. Na minha imaginação eu revoluciono minha vida. Revolucionando a minha vida eu revoluciono o mundo. Primeiro o imaginário.
Mas sei que logo a revolução será no mundo real. E eu não estarei sozinha como na revolução em minha própria imaginação. Estarei junto com outros, que não necessariamente reescreveram literalmente sua vida, mas que com certeza tem em sua mente uma outra concepção de mundo.

Na rua, na chuva, nós duas.

Olhei para o relógio. Estava atrasada. É incrível, eu tinha esperado por aquele dia fazia tempos e ainda sim não consegui não me atrasar. Fui andando até a Praça XV e corri para não perder a barca que já estava saindo. Não consegui chegar a tempo e tive de esperar a próxima. “Droga! Ela não vai me esperar”, pensei.
Era estranho, eu nunca tinha a beijado, mas parecia que quanto menos provável era ela me dar a honra de tocar seus lábios com os meus, mais eu ficava extasiada com a idéia. Ela era amiga de uma amiga minha, e desde que nos conhecemos em uma festa não esquecia seu rosto nem seu nome. Em meio ao tumulto de gente querendo ir para Niterói senti algo vibrar no bolso. No visor seu nome estampado: Líz.
Ela realmente era uma flor, assim como sugere o nome, seus cabelos encaracolados e tingidos de ruivo eram chamativos, mas seu rosto angelical e seus belos olhos castanho-mel eram o que realmente me chamavam atenção nela. Pra ressaltar seu charme ela usava um óculos, quadradinho e vermelho que, por conta da cor, acabava por combinar com suas madeixas.
Atendi extasiada de mais para não gaguejar:

_O-oi L-Líz
_Oi Luna! Cadê você?
_T-to nas b-barcas...
_Ta... A palestra já ta rolando, corre direto pra cá quando chegar em Niterói heim!
_Ta... (Eu disse meio mongol.)

Desligou. Meu coração estava na mão, queria logo atravessar a “poça” e ir ao seu encontro, por mais que não passasse de uma palestra chata de algum professor idiota da UFF. A barca chegou, enfim. Já estava pirando esperando a barca sem poder fumar, eu tinha entrado pra tentar pegar a barca anterior e agora não podia fumar! Odeio essas leis anti-fumo, quero minha ala de fumantes de volta!
A barca chegou. Entrei com dificuldades na embarcação e arrumei um lugar o mais próximo possível da saída. Foram 25 minutos de tortura esperando aquela desgraça atracar. Desci no centro de Niterói com tanta pressa que acabei até esquecendo do cigarro, fui correndo, literalmente, até o campus do Gragoatá, subi correndo pelo bloco C e achei a tal sala de palestras. Tinha muita gente saindo, fiquei estática por alguns minutos na esperança dela sair de lá também e de não precisar invadir a palestra com apenas 20 minutos para ela acabar. Porém vi vários rostos estranhos saírem da, aparentemente, tediosa palestra, mas nem sinal dela.
Eu fazia letras na UERJ e ela na UFF, não conhecia ninguém ali, exceto ela e a nossa amiga em comum, Ana. Criei coragem pra entrar na sala de cara dura, e qual não foi o meu nervosismo ao avistar aqueles lindos cabelos ruivos? Eu estava com o pé na porta, teria voltado se não fosse um cara no corredor estar olhando muito para mim, o que estava me deixando bastante incomodada. Entrei discretamente e sentei o mais próximo dela que consegui, entre nós havia um garoto desconhecido.
Mal sentei e ela olhou para mim com aqueles olhos magnânimos. Eu ficaria rubra se não fosse morena, senti minha pele arder de vergonha. Ela me sibilou um oi e voltou a prestar atenção na palestra. Já eu só prestava atenção nela.
Depois que a mesa foi aplaudida e ficou de pé para sair eu reparei que a palestra havia acabado. Levantei, e quase que automaticamente fui abraçada por aquela menina. Engraçado foi ao tentar cumprimentá-la com dois beijos, acabar dando um selinho sem querer. Fiquei morrendo de vergonha, ela pareceu não se importar nem um pouco, não me notava mesmo... Provavelmente não significou nada para ela. Tentei convencê-la a ir a um bar próximo para conversarmos, mas ela não deu muita trela, disse que tinha que correr pra casa, por causa do pai dela e me pediu mil desculpas. Ela me chamou para voltar pro rio com ela e pegar as barcas de novo, perguntei que ônibus ela pegaria chegando na Praça XV, ela disse:

_Eu volto com o 238.
_Aaaa é você agora ta morando no Grajaú né?
_É...
_O 238 também serve pra mim, me deixa na Lapa, pertinho da Glória. (Disse sugerindo que pegássemos o mesmo ônibus também)
_Então vamos juntas... (Ela disse com simplicidade, me fazendo sorrir.)

Fomos andando, chuviscava e nós conversávamos bobagens, ela me contava como o pai dela era chato, como estava indo a faculdade, eu era praticamente só ouvidos. Não andamos nem dois minutos e a chuva começou a apertar. Eu estava morrendo de frio.

_Será que a gente não pode esperar um pouco aqui? (Sugeri quando estávamos perto de um bar.)
_Se eu chegar muito tarde meu pai me mata. (Ela disse com pena da minha situação, eu estava tremendo.) Se quiser ficar tudo bem, mas eu vou...
_Não! Eu não sou de açúcar! (Falei tentando demonstrar ânimo, mas acho que com a minha tremedeira não consegui convencer.)

Continuamos andando, agora quase correndo para tentar fugir da chuva. Quando chegamos na altura do Plaza Shopping eu estava completamente encharcada e ela também. Eu soltei um espirro e me abriguei numa banca de jornal enquanto esperava o sinal de trânsito abrir para atravessarmos a rua. Foi quando lembrei do maço de cigarros no bolso, fui verificar, estava completamente molhado. Revoltada joguei o maço no chão. Ela viu e ficou constrangida.

_Putz! Desculpa te fazer enfrentar essa chuva!
_Aí cara! Eu gosto muito de você mesmo viu? Só tu pra me fazer enfrentar essa chuva! (Confessei na raiva.)

Ela ficou nitidamente rubra com o comentário, que só agora eu me tocava que tinha me entregado. O frio passou momentaneamente quando senti o calor da vergonha queimar minha face novamente. Ela pegou minha mão, ao ver o sinal abrir e fomos correndo de mãos dadas. Confesso que tinha esperanças de manter aquele contato mesmo após atravessarmos, mas ela soltou minha mão andando na frente. Depois olhou para trás me analisando dos pés á cabeça, por dois segundos pensei que ela estivesse me admirando.

_Desculpa, por minha culpa você ta toda molhada... (Pensei em outro sentido da frase, mas respondi como se nada pervertido tivesse passado pela minha mente.)
_Relaxa! Já tô na merda mesmo... Vou abraçar o capeta!

Eu disse e fui até ela fazendo os passos de “dançando na chuva” com direito a cantarolar e tudo, depois a abracei. Ela me olhou meio constrangida e depois me largou continuando a andar. Depois disso o silêncio meio que imperou entre nós duas. Chegamos nas barcas, como eu já estava meio desacreditada que algo pudesse rolar comprei um novo maço de cigarros com um ambulante e fumei antes de ir pras barcas, ela me esperou e conversou comigo enquanto eu aliviava a vontade acumulada.
Meu cigarro acabou bem na hora em que a barca chegou. Fomos entrando no meio da multidão, e achamos um lugar o mais longe possível da entrada e da janela, pois por ali entrava vento e água da chuva.
Fomos a viajem toda conversando, e estranhamente ela segurou minha mão algumas vezes, depois soltava e ficava quieta por um tempo. Por várias vezes aproximei de mais meu rosto do dela, queria tanto dar-lhe um beijo... Mas no meio de tanta gente eu jamais tentaria agarrá-la correndo o risco de tomar um fora. Ta bem, confesso que as pessoas ao redor eram o de menos, o que me fez deixar de tentar mesmo era o medo da rejeição dela.
Ter fixação por alguém é realmente trágico... Ao mesmo tempo que a coisa mais provável que você faça é tentar ganhar um, beijo ou um carinho daquela pessoa que possui sua mente e coração, a coisa menos provável é que você realmente faça algo para conseguir qualquer demonstração de afeto dessa pessoa.
Chegamos no rio e fomos pro Mergulhão, entramos no 238. O motorista e o trocador estavam do lado de fora, mas como eu paguei com bilhete único e ela com o rio card, naquelas maquininhas de pagamento de tarifa automático, nós entramos de uma vez e sentamos no meio do ônibus esperando sua partida.
Eu estava conversando com ela, mas de repente nossos olhares se grudaram. Nos calamos. Minha mão começou a suar, ela aproximou um pouco o rosto do meu e me deu um beijo na bochecha. Olhamos cada uma prum lado, mas nossos olhares teimaram em se conectar novamente. Fiquei sem jeito, mas aproximei meu rosto um pouco mais. Enfim tinha criado coragem para agir, mas nesse momento o motorista entrou e disse que o ônibus não sairia, pois estava quebrado e que teríamos que pegar o próximo que chegasse.

_Não se preocupem, podem ficar aqui dentro enquanto o outro não chega por causa da chuva... (Ele disse simpático e desceu novamente.)

Olhei para Líz. Ela estava um pouco corada. Dei uma espriguiçada e quando me toquei ela havia se aconchegado em meu ombro. Nossos rostos agora estavam muito mais próximos. Seus cabelos molhados escorriam pela minha camisa, sua testa encostou na minha e seus lábios carnudos e rosados estavam próximos de mais, irresistíveis. Nos aproximamos mais e sentimos os nossos lábios se tocarem timidamente. De leve ela mordeu meu lábio inferior, depois novamente tocou meus lábios com os seus. Ficamos por muito tempo saboreando uma os lábios da outra.
O motorista subiu novamente falando que o outro ônibus havia chegado. Ela pegou minha mão e me puxou pro outro carro. Chegamos lá, sentamos e nos encaramos timidamente.

_Você é muito fofa. (Ela falou apertando minha bochecha.)

Fomos o resto da viajem em silêncio, nossas bocas só se comunicaram em beijos tímidos e sinceros. Chegou o meu ponto e eu tinha que descer. Lhe disse “Até breve” e ia levantar quando ela me puxou de volta e me deu outro beijo.

_Te adoro.

Ela disse e eu desci sorridente. Cheguei em casa e não quis dormir. Não quis dormir, pois não queria acordar daquele sonho de jeito nenhum. Mas mesmo lutando contra o sono acabei apagando. Acordei de manhã e a primeira coisa que vi foi uma mensagem sua em meu celular.

“Depois do que houve ontem eu descobri o quanto eu gosto de chuva.”