sábado, 21 de abril de 2012

Monólogo

Não fale bobagens.
Não pedi para abrir sua boca
para dizer insanidades!
Se cale!
Se cale e não mais diga
o que não sabe.
Faça-me o favor
de com louvor
também não dizeres
o que souberes.
O que sabes
não cabe nessa conversa.
Não quero ouvir tua voz!
Não aguento teus anseios...
Me enoja o seu sofrer
e essa postura
de querer me convencer
a secar suas lágrimas.
Não quero o seu perdão!
Não pedi para ser perdoado.
Nem quero seu amor!
Não quero cadeados!
Te ouvir, pra mim,
é uma tortura.
Só quero ficar só.
Sozinho com a linda pintura
da minha vida sem você...
do meu solitário sofrer.

domingo, 15 de abril de 2012

Planos

Não sei o que pode ser,
só sei o que poderia ter sido.
Queria o eterno,
mas hoje o eterno
esta perdido.
Queria a sinceridade,
mas ela se escondeu
na mediocridade.
Queria o amor,
mas este nunca me encontrou.
Queria  o afeto,
mas só sobrou desconfiança.
Queria o para sempre,
mas o pra sempre é só lembrança.
Lembrança dos planos
que tracei com cuidado
e carinho.
Mas após perder meu mapa
fiquei sozinho
no caminho
das esperanças perdidas
das ilusões desvairadas.
Estou na beira.
Sem estrada.

O que me falta?

O que é se sentir perdido, quando encontrado? Me encontraste, mas, em contraste, continuo me sentindo perdida. Tudo bem, parte dessa desorientação é causada por eu constantemente me perder em seus lábios carnudos, em seu corpo, em seus olhos... mas estou certa de que não é somente minha mente passar constantemente pelas suas curvas, o que faz minha visão ficar turva, nem minha cabeça tão confusa.
Talvez você esteja certa. E essa minha perdição seja a falta de umas certas curvas, que não são suas.

Feliz Aniversário.

Acordei com o sol rasgando minha face. Havia esquecido de fechar a porcaria das persianas no dia anterior. Levantei irritada, fechei aquela desgraça e voltei para a cama. Em vão. O sono já havia ido embora. Levantei desistindo da cama depois de passar um tempo lutando com o colchão. Estava um pouco atordoada. Procurei imediatamente pelo maço de cigarros. Só tinha um ultimo cigarro. Droga, eu teria de sair para comprar mais.
Fumei aquele ultimo enquanto esperava a cafeteira aprontar o café. Quando enfim o aparelho apitou eu ja tinha vontade de fumar outro.
Larguei o café pela metade e a contra gosto desci as escadas (odeio elevadores) do meu prédio e fui até a banca de jornal. Comprei dois maços de Dunhill. Acendi um ainda na rua. Subi as escadas fumando sem me preocupar com as reclamações do porteiro ou com os "xingamentos" das carolas da igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo o Salvador (ou qualquer coisa parecida com isso).
Voltei para o meu "apertamento" e aos poucos fui relaxando de cigarro em cigarro.
Quando ja estava mais calma comecei a fazer meu almoço: miojo de legumes com salsicha enlatada e queijo ralado. Comi pouco, estava uma porcaria! Não aguentava mais ver miojo na minha frente.
Ia voltar a deitar, mas reparei que meu celular piscava freneticamente largado na estante. Vi o que era: Uma ligação de Raúl que eu acabei não atendendo. Não ia retornar, não queria falar com ninguém, mas ele me ligou exatamente na hora que eu ia desligar o aparelho.

_Fala Raul. (atendi com o ânimo de uma lesma.)
_Roberta, vamos sair...
_Não quero. (interrompi.)
_Deixa de ser chata! (Ele começou a fazer a voz chorosa) Hoje é seu aniversário!
_Foda-se.
_Beta! Você tem que superar isso!
_Quero ficar sozinha. (confessei)
_Qual é gata? Essa mina já te esqueceu há meses!
_CALA ESSA BOCA RAUL!(Acabei gritando com o coração acelerado.)

Fez-se um silêncio repentino. Ele tava certo e eu sabia.

_Beta, a Suzana já ta até com outro namorado enquanto você fica ai sofrendo sozinha, perdendo seu aniversário por conta dela!
_Ela ta namorando quem? (Eu perguntei já imaginando a resposta.)
_Erh... (Raul ficou sem jeito.)
_Por favor não me diz que é aquele guri...
_Não vou mentir pra você. É o Guido.
_Puta que pariu! Odeio não ter um pau!
_Não odeie... Por ter um ele vai ser papai.

Entrei numa espécie de transe com aquela frase. Suzana estava grávida. Ta aí uma coisa que eu jamais poderia dar a ela: um filho. Meu peito estava inflamado naquele momento. Parecia que ia explodir. Me bateu um ódio, uma inquietação...

_Vamos sair Beta! Te pago duas Heineken's!
_Quero cigarro. (falei ao acender mais um e constatar que só haviam mais três no primeiro maço.)
_Ok, dois maços de Dunhill então.
_Mais duas Heineken's? (negociei.)
_Tá bom sua charlatã! (ele disse dando uma risadinha.) Mas só porque é seu aniversário.
_Fechado. (disse sem muita empolgação.)
_Ok, passo aí pra te buscar daqui  a pouco, se arruma...
_Ok.
_Beijo sua linda! Te ado...

Desliguei. Odiava telefones. Só tinha um pra ligar pro meu pai pedindo a pensão.
Eu sobrevivia de uma merreca que ele me dava e de uma bolsa da faculdade. Era pouco mas dava pra eu não morrer de fome, intoxicar meu pulmão de cigarro, meu fígado com álcool e ter um lugar meu para ficar agonizando. Morava em um apartamento bem pequeno. Tinha um banheiro, uma cozinha americana que se dividia com o meu quarto/sala.Só havia uma janela além do basculante do banheiro. E para a minha infelicidade a desgraça ficava bem no espaço do meu quarto para me infernizar a cada raiar do dia.
Mas, voltando à história, fui me "arrumar" para sair. Tomei um banho rapido, comi um biscoito cream cracker  (para não passar fome afinal a grana estava escassa. Coloquei uma camiseta preta do Pink Floyd  por baixo de um casaco cinza aberto, uma calça masculina que era de um ex namorado do ensino médio (na época que eu ainda me forçava a ficar com garotos) e all star azul marinho. Me encharquei de desodorante masculino e dei uma ajeitada nos meus cabelos (lisos e negros que vinham até a altura do meus ombros), limpei meus óculos (que eram de aro fino na com cinza escuro e formato quadradinho). Me olhei no espelho, meus olhos verdes estavam avermelhados. Segurei a vontade de chorar, me recompus, peguei a chave, o celular, o resto dos cigarros, meu Zippo, uma nota de dez reais e enfiei tudo no bolso da calça.
Uns vinte minutos depois ouvi a campainha tocar, assim que lembrei de pegar a identidade para não se barrada do bar como era de costume.
Ao abrir a porta tomei um susto. Não era o Raul. Era uma garota de cabelo castanho, curto e repicado, olhos negros vibrantes, baixinha (devia ter um metro e sessenta no máximo). Usava uma baby look verde e um bermudão preto, alargador metálico numa orelha, argolinha prata na outra.
Olhei-a de cima a baixo sem pudor, com uma expressão (creio eu) esquisita. Ela me devolveu um olhar de desprezo e meio que forçosamente abriu a boca:

_Roberta né? (Ela perguntou como quem afirmava.) Olha, o Raul ta la embaixo pediu pra eu te chamar. Vamos. (Falou como se fosse um robô sem expressão.) Aaaa... Ia esquecendo, parabéns! Você acaba de ficar um ano mais perto da morte.

Eu semi-sorri. Enfim alguém tinha uma visão coerente sobre aniversários. Fechei a porta e desci com a garota, não perguntei seu nome, não precisava saber. Ao chegar no carro Raul parecia ter adivinhado o teor de frieza da nossa conversa. Ficou tentando nos fazer conversar. Patético!

_Beta, essa é a Iki!
_Que nome estranho! (Falei sinceramente.)

Ela me fuzilou com o olhar e eu dei ombros.

_Taiki é o nome dela, tem descendência japonesa. (Juan, o namorado de Raul, tentou acalmar a situação.)
_Ela nem parece japonesa! (Eu disse com desdém.) E outra, Taiki não era o nome daquele garoto daquele desenho de japonês... Dos monstrinhos?
_Digimon... (Raul falou rindo.)
_Não tem nada a ver com o desenho! (A menina respondeu revoltada.)
_Da pra gente mudar de assunto? (Juan pediu)
_Claro! (eu disse sorrindo ironicamente), mas continua sendo esquisito...
_Pelo menos eu não sou radioativa. Alfa, Beta e Gama. (Ela disse pomposa).
_Não é o nome de uma radiação, é só uma letra do alfabeto grego. (Eu respondi seca.).

Ela revirou os olhos e disse:

_Foi uma piada, panaca.
_Você tem um péssimo senso de humor. (Respondi bufando.)
_Olha quem fala! (Raul e Juan falaram em uníssono.)

Fomos a viajem inteira trocando elogios no banco de trás. Ainda bem que o percurso era curto, eu estava vendo a hora que o Juan ia se jogar do carro pra se livrar de nós duas.
Paramos no Live, um barzinho famoso da região. Tava bem cheio, mas como tinha uma mesa vagando assim que chegamos decidimos ficar.  Eu até admito que gosto do Live, lá tem mesa de sinuca, ddr(tipo dance dance revolution), telão com clips e tal... Só que gosto do Live lá pelas 4 da manhã, quando não tem quase ninguém pra te encher.
Naquele horário confesso que estava ficando incomodada de estar ali. E ainda tinha a tal de Iki me enchendo o saco, não parava de fazer bolinhas de chiclete. Onde já se viu? Beber cerveja mascando chiclete?

_Que foi? (Ela perguntou percebendo que eu estava a observando.)
_Porque você masca chiclete enquanto bebe cerva?
_Porque eu gosto e daí?
_Vou jogar Pump. (Falei levantando com minha long neck de Heineken e fui em direção à maquina de dança).

Achei que ela pensou que era um convite, porque ela foi me seguindo até o caixa e comprou ficha também.

_Vai dançar? (perguntei).
_Quem vai dançar é você... Eu vou brincar. (ela disse com desdém.).
_Duelo? (eu desafiei).
_Se você acha que pode... (ela respondeu ironica.)

E assim foi:
Escolhi MaxX Unlimeted Another, uma das mais difíceis se não a mais. Ela se espantou com a escolha. Deve ter achado ou que eu nunca tinha jogado, pra ter escolhido logo essa, ou que eu jogava muito. É eu jogo pra caralho. E sempre com um cigarro na mão! Por oito pontos fiquei na frente dela. Depois de dançar essa dançamos mais umas duas difíceis e o resto era fichinha, praticamente não errávamos. A cada intervalo de música ela pegava uma cerveja que nós dividíamos. Só fomos perder la pela 17° música quando já estávamos muito cansadas e bêbadas. Fomos até o o balcão pegar mais cerveja. Dessa vez eu paguei com a nota amassada de dez que eu tinha no bolso. Peguei uma garrafa e entreguei a ela.

_Valeu... Aí, tenho que admitir, você joga pra caramba! (Ela me disse pegando a garrafa e brindando com a minha.)
_Você também... Geralmente a galera cai logo na primeira...
_Também tu coloca logo a mais difícil!
_É pra aquecer rápido... (Respondi sorrindo.)

Aos poucos começamos a falar da vida. Raul e Juan exibiam no rosto aquela expressão de "eu sabia que elas iam se dar bem."

Meu dinheiro acabou, mas os meninos me tranquilizaram e a cerveja continuava a brotar. Falaram que era o meu presente de aniversário e, apesar de não gostar de presentes de aniversário, cerveja é um presente que nunca se nega. Eles estavam doidos pra que eu pegasse a pirralha.. Não que isso nunca tivesse passado pela minha cabeça... Seu humor ácido até que me era interessante. Ainda assim ela não passava de uma pirralha que sabia dançar pump it.
Ela me pediu para ir ao banheiro com ela. Eu disse que tava com preguiça. Ela me encarou contrariada. Comecei a rir assim que ela se levantou decepcionada e foi sozinha. Raul e Juan viram a cena e balançaram a cabeça em tom negativo. Continuei bebendo com eles, mas passou um tempo e eu reparei que a guria não voltava. Marquei uns cinco minutos e depois levantei dizendo que ia pegar outro maço de Dunhill e mais cerveja. Raul me deu uma nota de vinte. Levantei e como, milagrosamente, o Live tava esvaziando dava pra ver as pessoas bem mais fácil. Cheguei perto do balcão e finalmente encontrei a pirralha. Ela tinha no máximo 19 anos e eu com meus 26 tinha ido atrás dela sei o porquê.
Ela estava agora conversando com uma garota de moicano vermelho e cheia de piercings. Olhei automaticamente de rabo de olho, ela sorria com certo ar de triunfo. Virei-me para o atendente e peguei a cerveja e o maço. Quando voltei minha atenção para as duas elas seguiam juntas para uma mesa de sinuca.
Olhei ao redor e vi uma garota loira, sozinha, indo em direção à outra mesa com uma ficha na mão. Delicadamente puxei-a pelo braço e perguntei:

_Oi, sabe jogar?
_Sim... (ela respondeu me entregando um caprichado sorriso).
_Topa fazer dupla? (perguntei retribuindo-a um sorriso meio amarelo).
_Topo! (ela respondeu me entregando a ficha).

Puxei-a pela mão e a conduzi até a mesa onde as outras duas estavam arrumando as bolas.

_Dupla contra dupla? (falei sem medo pondo a ficha sobre a mesa).

A ruiva me encarou com uma expressão estranha, Iki sorriu desdenhosa.

_Eu topo. (A garota de moicano falou tirando uma moeda do bolso) Vai de cara ou coroa?
_Vocês começam. (respondi dando os ombros.)
_Qual o nome de vocês duas? (A ruiva de moicano perguntou enquanto Iki jogava).
_Maiara. (A loira respondeu.)

Eu permaneci calada e encaçapei logo uma vermelha.

_Ela é a Roberta, ou Beta, como preferir. (Iki respondeu por mim.)

Dei mais uma tacada deixando outra bola na boca da caçapa. Era a vez da ruiva.

_Eu sou a Gabi. (ela disse dando uma tacada cega em um bolo no canto da mesa, por sorte uma amarela entrou. Deu uma segunda tacada e por pouco não encaçapou outra.)

Maiara jogou e pôs outra bola na boca. Iki conseguiu tirar a que eu tinha colocado na boca e ainda encaçapou mais uma amarela. Matei a que a loira tinha deixado mole. Dei mais uma tacada e por sorte encaçapei mais uma. Da terceira vez consegui só bater na ultima vermelha mesmo, a posição estava péssima, e ficou ainda pior depois que eu taquei. a próxima pessoa ia ter que bater de canhota.
Gabi tentou se acertar para dar a tacada, mas estava difícil. Iki foi por trás dela meio que a abraçando para ajudar a ajeitar a posição. Gabi deu a tacada e encaçapou.
Maiara jogou mal e deixou a ultima mole para as duas. Iki colocou com facilidade a ultima bola na caçapa. e na posição que a bola tava era bem a caçapa que eu precisava livre. Eu fiquei extremamente irritada, tanto com a loira quanto com a Iki.
Decidi acabar com a brincadeira, mirei com muito cuidado, devo ter demorado uns tres minutos pra tacar. Por um triz, minha bola bateu rapidamente na amarela que estava praticamente morta e lentamente entrou na caçapa.
Sorri vangloriosa e joguei o taco sobre a mesa. Não sabia o porquê mas continuava irritada. Saí dali sem dizer nada e peguei a cerveja da mão do Raul.

_Onde você estava? (ele me perguntou estranhando).
_Me divertindo. (disse sentando.

Cinco minutos depois aparece a Iki com um ar enfurecido.

_Maiara ta te procurando. (Disse entre dentes.)
_Deixa ela procurar. (respondi soltando a fumaça de meus pulmões.)
_Você é uma idiota.(ela respondeu incomodada.)
_Você é má perdedora. (Respondi dando uma golada na cerveja.)
_Você se acha!
_Não me acho. Simplesmente sou. (respondi rindo.)

Ela se calou bufando, ia abrir outro chiclete. Eu gargalhei.

_Que é? (ela perguntou exaltada.)
_to feliz não posso?
_Vai se fuder!
_Sozinha não tem graça. (Disse fingindo estar pensativa.) Será que a Maiara me daria uma mão? Ou duas talvez...
_Sei la. Pergunta à ela. (Iki respondeu baixinho se contendo.

Encarei a pequena e disse-lhe pra se aproximar pois eu iria lhe contar um segredo. Ela chegou mais perto, ainda emburrada. Encostei minha boca em seu ouvido, mordi , seu lóbulo, seu pescoço... Logo puxei-a para um beijo que foi mais do que correspondido. Juan e Raul não entenderam. nada. Mas quem precisava entender algo? Só nossas línguas entrelaçadas... Nós duas abraçadas...
Hoje eu posso dizer:
Foi um Feliz Aniversário.