segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Esteriótipos.

Tava eu, outro dia no bar, só vi o cara chegando porque estava procurando a Raquel, que tinha ido no banheiro e demorou milênios pra voltar. O tal sujeito era alto, marombado, cabelo bem curto e de olhos castanhos claros. Olhei pra camisa do cara umas cinco vezes pra conseguir realmente acreditar no que eu estava vendo. "Orgulho Hétero" era a frase estampada no peito seguida pelo símbolo feminino e masculino enlaçados. Acendi um cigarro ainda pensando em que tipo de babaca usaria aquela blusa. ele foi se aproximando do balcão e ficou de costas pra mim. Ao ver o que tinha escrito nas costas da camisa, meu cigarro, quase que instantaneamente, caiu da boca.

"O número de heterossexuais assassinados todos os dias é muito maior que o de homossexuais."
"Não somos obrigados a participar de um mundo colorido se preferimos o preto no branco"
"Orgulho porque não temos vergonha do que somos"

Ele se virou meio brusco e me perguntou:

_O que é que você ta olhando? Tem raiva de héteros?
_Não, de forma alguma... Mas idiotas me deixam com os nervos a flor da pele, independentemente da orientação sexual.

Ele me encarou vermelho de raiva e falou:

_Qual o problema de ter orgulho de ser hétero? Fica você com seu orgulho gay que eu fico com o meu.
_O problema do orgulho hétero, não é o nome orgulho hétero, mas o nome que vocês ocultam: Orgulho homofóbico.
_E o problema dos gays é acharem que todo hétero é homofóbico!

Raquel chegou bem nesse momento com cara de reprovação.

_Amor deixa isso pra la. (Ela disse no meu ouvido)
_Ai ta vendo? Você ta ai com tua amiga sapata e eu nem quero bater em vocês!

Nós dois começamos a rir da cara do rapaz.

_E você acha mesmo que merece um troféu por não querer bater em gays? (Eu perguntei já aborrecido.) Isso deveria ser o normal, as pessoas não quererem bater em alguém por ele ser gay. Por isso existe orgulho gay, é um movimento de resistência!
_Mas orgulho hétero é a resistência hétero contra a ditadura gay! (Ele falou de forma escandalosa chamando a atenção de todos os outros do restaurante)
_Ditadura? Me diga então, quais direitos você deixou de ter por existir essa "ditadura gay"?
_Não poderei mais me expressar! Com essa nova lei que vocês querem aprovar! (Ele afirmou na defensiva.)
_É mesmo? Ou sera que tudo o que você não pode é chamar os gays de viadinho filho da puta, mandar ir chupar uma rola ou algo assim? Me diz ai o que você enquanto cidadão não pode expressar com a PLC122  aprovada?

Ele se calou bufando. Achei que ele não fosse mais responder, mas tinha que vir a cereja do bolo:

_Não poderia fazer um movimento de orgulho hétero! Enquanto vocês gays tem o orgulho gay.
_Pois é, imagina se hoje surgisse um movimento chamado "resistência branca ou masculinismo" porque os homens estão virando escravos do lar e os brancos agora são escravizados! (Raquel se meteu com impaciência.)
_Seria ótima a pluralidade de movimentos! (Ele respondeu com um sorriso.)
_Óbvio, democracia é? Que tal refundamos o partido nazista? (Eu perguntei sarcástico.)
_Aaaa... Vai tomar no cu seu viado, eu sou judeu! (Ele respondeu isso e foi embora xingando mais um monte.)
_VIVA A LIBERDADE DE EXPRESSÃO! (Gritei em comemoração.)

Raquel estava em gargalhadas eu olhei pra ela e fiz o último desabafo do dia:

_Imagina a cara dele se soubesse que a gente é um casal hétero?

Metamorte

Sempre chega aquela hora triste. Aquele momento que tentamos adiar ao máximo tentando resguardar aquilo que faz de nos o que fomos, mas que já não somos. O tempo passa e o nosso antigo eu, também. Seria fácil continuar agarrado aquela velha criança que fomos, mas, já não somos puros nem castos. Somos nosso próprio fim e dia após dia nos matamos e criamos outro ser. Ser que as vezes odeia o seu antepassado. Não que eu odeie quem fui, muito pelo contrário, gosto muito de quem fui e do que fiz, mas é preciso crescer.
Crescer e esquecer daquilo que nos era antes importante, mas que agora é só mais um peso que carregamos. A vida não nos permite o excesso de bagagem quando não se tem o dinheiro. Temos que jogar fora nosso brinquedo favorito que já não temos onde enfiar em uma kit net abarrotada de livros, documentos e coisas de velhos. 
O leite com Nescau não tem mais lugar na dispensa. Já para a cachaça e o vinho barato, temos uma prateleira. Ser mais um velho ébrio num mundo de poucas crianças de espírito. É o que me resta e é o que resta aos sensatos. Felizes os insolentes, que desafiarão por mim e por você, eu e você. Eu não pude me manter do lado certo da barricada, mas sei que estou errada. 
Esse é o preço da sua opressão revolucionário, a desilusão de mais um missionário. Espero que siga contra a minha corrente de náufragos e que de vento em polpa consiga chegar a um novo mundo que não poderei descobrir.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Sem volta


Talvez eu me arrastasse
Até o fim dos dias
Só para ter a certeza
de que tentei ao máximo.

Talvez eu só sorrisse
E te abraçasse
Te dando o carinho que
Eu sei que você não merecia.

Talvez eu não te dissesse nunca 
Nenhuma indelicadeza
Afim de que você
Fosse mais delicada comigo.

Talvez eu te pedisse
Que aceitasse o meu perdão
Quando você me devia desculpas.

Talvez sua carne seja fraca,
Mas que forte alma
É essa sua?

Dessa vez eu ia te deixar
Por saber que mesmo
Que você quisesse voltar
Não tinha mais como
Você me seguir

domingo, 11 de novembro de 2012

Duplo Vício



Eu fumo mais um cigarro.
Você até abandonou o vício,
ficou tão careta!
Já não sai, não bebe, não fuma...
Se fode eu não sei e nem quero saber.
Isso não cabe a mim,
só a você.


E acendo outro cigarro,
coisa que você já não quer
ver nem de perto.
Engraçado que quem me ensinou a tragar
foi você.
Com seu marlboro vermelho,
eu sentia seu cheiro
e queria mais.


Me pergunto como você conseguiu parar
se você mais parecia
uma máquina de sexo movida à tabaco.
Transávamos e tragávamos.
Era incessante!
Alucinante...


Sempre que eu sinto esse cheiro de nicotina
me lembro de você se ascendendo,
ofegante, desfalecendo
em meu colo nú.


Será que minha falta te afastou do vício?
Ou será que largou o vício pra eu largar de você?


Acho que foi só o querer não sentir
a mesma falta que sinto
ao, por aqui, acender
uma brasa que me lembra
meu amor por você.

sábado, 3 de novembro de 2012

X e X

Um amor proibido
que deve ser coibido
por eu ser uma mulher,
que sabe o que quer:
outra mulher.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Ideologia

Se eu te dissesse que existe um homem, que criou um regime, onde todos devem perante ele se curvar, sem questionar nenhuma palavra do que ele diz?
E se dissesse ainda que este homem escolheu um povo que seria "puro", um povo que o segue fielmente e faz tudo o que ele quer?
E se eu dissesse ainda que esse homem quer que todos na terra o adorem e obedeçam todas as regras por ele impostas e que os que não cumprissem essas leis, ditadas por este, seriam torturados ou mortos?
E se eu lhe contasse também que esse homem matou o próprio filho afogado? E se eu dissesse ainda que ele planeja torturar outros filhos seus com fogo em brasa?

Você me diria que esse homem é bom?
Você me diria que quer ser governado por esse homem?
Você confiaria sua vida a esse homem?

E se eu te dissesse que este era alguém como Hitler?
E se eu te dissesse que este é aquele a quem você chama de Deus?

domingo, 14 de outubro de 2012

Escape


Eu quero fugir. Eu preciso fugir e não enfrentar de frente. É tão terrível ser corajoso e entrar em uma guerra sabendo as chances que você tem de perder. O medo de sentir seria maior que o medo de estar sozinho? Minha vontade de fugir da solidão seria maior que o desejo de fugir dos sentimentos? Será que são realmente sentimentos? São tantas questões que só de ouvir a palavra "questionar" já me dói a cabeça.  Antes fosse só a cabeça... O que tem me enlouquecido é esse peito que, aquecido, parece que vai entrar em colapso a qualquer momento.
Eu sei que a culpa não é sua, mas culpa não é sinônimo de causa. Eu sei que seria mais honrável e louvável ter menos ego e não me importar com o que viria em retorno. Mas eu já não posso ter o mesmo espírito de aventura de outras épocas. Estou ficando velha, pode parecer hiperbólico, mas na realidade é um retrato muito bem feito da minha idade emocional. To velha, já quase gagá. Cansei de sentir. E não é de sentir paixão ou coisa do tipo. O problema não é o sentimento em si, mas todos os outros que ele arrasta junto consigo. Eu não consigo não sentir o orgulho ferido, a insegurança apertada, o medo que me assombra...
A completude me assusta. E não é porque eu não goste do envolvimento. O problema é o que ele traz com o tempo. Por isso vou fugir com o vento. Pra onde ele vai soprar eu não sei, mas posso garantir que é só mais uma simples fuga. De ti, de mim, do sentir, da vida, do temor... Não sei de que, ou de quem,  fujo, mas sei que fujo para não sentir a dor. Seja lá do que for.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ditos bem ditos.

  No ar o clima. Na face a timidez. Um selo, pra selar a minha dúvida, ainda assim um selo tímido da minha parte.  Eu sei que disse que com o tempo ia perdendo a vergonha, mas falar é fácil, fazer é que o difícil. Talvez seja o medo de ir com sede ao pote e depois chorar o leite derramado. Talvez seja o medo de ficar tão feliz provando desse seu mel, melado, e me lambuzar por demais. Dizem por aí que não se deve pôr a carruagem na frente dos bois, por isso espero, sem paciência, mais um dia ou dois... Pra poder deixar o clima a dois mais solto. Estávamos ao vento, mas ainda assim o medo de abrir os braços e simplesmente deixar bater me fez me conter.
  Talvez você sinta como se eu tivesse sido fria, e queira me dar um gelo, talvez queira cumprir a lei de que quem com ferro fere, com ferro será ferido. São tantos ditos malditos me botando interrogações na mente que já nem sei se estou vendo chifre em cabeça de cavalo... Talvez esteja. A minha insegurança muitas vezes me faz sair da dança. Mas eu já disse que quero ser seu par.
   Devagar se vai longe, então acho que é preciso calma para decidir, mas eu sei bem que quero ir. Mas será que querer é realmente poder? Dizem que se um não quer, dois não brigam. Mas o que me dá medo é que quando um não quer, dois não ficam. E assim vou ficando na duvida. Sigo adiante ou paro no meio do caminho? Não quero ficar parada tempo demais... Dizem que o seguro, morreu de velho e que quem não arrisca não petisca, nem mordisca. Eu quero morder você.
  Será que você me espera? Será que você me alcança? Será que você entra e sai da dança? Onde há fumaça, há fogo. Onde tem fogo tem perigo. Mas eu já nem ligo, já caí na fogueira. Quem tá na chuva é pra se molhar. Então se molha comigo e me faz de abrigo?

sábado, 29 de setembro de 2012

Tragehistória

Fumando um cigarro,
bebendo Coca-cola.
A vida me oferece
menos que uma esmola

E mesmo sem ver graça
eu vou para a praça,
viro mais um copo
da minha desgraça.

Fumando e bebendo,
sorrindo e cantando.
Vou envelhecendo
ao som de um tango

Não quero fingir,
mas já não consigo.
Eu quero fugir
mas no fim eu fico

Queria sentir
o que é não sofrer,
mas ninguém consegue
enquanto viver.

Fumando e bebendo,
sorrindo e cantando.
Vou envelhecendo
ao som de um tango.

Já não sei correr,
mas não fico parada
e mesmo ao saber
caio em sua cilada.

A teia da vida
só acaba na morte.
Eu tento escapar
mesmo sem ter sorte

Fumando e bebendo,
sorrindo e cantando.
Vou envelhecendo
ao som de um tango.

domingo, 16 de setembro de 2012

Quem nunca vomitou corações?

"Eu sou feliz." Repetia isso feito um mantra todos os dias da minha vida, naquela época. Eu sabia que gostava da Lídia, ela era a mulher perfeita. Tínhamos uma casa, um carro clichê, dois filhos, um adotado e outro que eu mesma dei a luz, um gato e uma vida sexual maravilhosa. O sonho de qualquer mulher lésbica é ter a vida que eu tinha. Mas ainda assim eu precisava repetir aquele mantra todos os dias sem parar.
Todos aqueles anos perfeitos não surtiam o efeito de amenizar aquela dor no estômago que me incomodava constantemente. Não era cólica, nem azia, nem dor de barriga, nem ulcera... Era fome. Não fome de comida, mas fome daquilo que eu só tive numa época mais que perfeita que tinha se passado há muito tempo.
Eu estava no mercado, com o Guilherme e o Anselmo, meus dois meninos lindos. O Gui estava dentro do carrinho, pequenininho tinha um aninho, ele era mais calmo que muita criança por ai. Anselmo era maiorzinho e levado, tinha 6 anos e saia correndo pelo mercado e enchia o carrinho de guloseimas, que eu sempre tinha que tirar na hora de passar as as compras. A Lídia tava trabalhando e eu cuidando das crianças e da casa como o comum. Era estranho, apesar de eu ser a masculina, eu que acabava parindo, cuidando da casa... Era como se eu fosse a "mulher" da historia. "Eu sou feliz", nesse aspecto eu realmente era, não era ruim cumprir esse papel por que foi uma opção minha, não foi uma imposição do mundo. Era bom eu poder estar naquela posição porque eu planejei assim ao contrário de todo o mundo, que dizia que eu não podia cumprir esse papel.
Ia eu ali cumprindo minha rotina distraidamente, até que por algum alinhamento bizarro das estrelas, meu carrinho cruzou com outro, meus olhos foram surpreendidos com aquele mesmo olhar, que eu não via há tantos anos que nem lembro mais quando tinha sido a ultima vez. Meu estômago se revirou no exato momento. Vacilei um pouco e ela me sorriu constrangida com um leve pedido de desculpas.

_Perdão, meu bem. (Ela falou como se se desculpasse por algo mais do que aquela simples batida.)

Meus olhos se encheram e eu não saberia explicar o porquê. Não sei se era raiva, dor, saudade, alegria... Só sei que segurei cada lágrima friamente. E de forma quase rude, de tão embrutecida eu repliquei:

_Não foi nada.

Eu respondia de forma mentirosa. É caro que aquilo era muito mais do que  nada. Era tudo. Mas já havia se passado tempo, eu já vivia outro momento. Não podia simplesmente dar relevância há uma batida de carrinho no supermercado. Eu estava pronta para ignorá-la, Fingir que não havia reconhecido, fingir que aquilo não me afetou. Mas ela me surpreendeu indo com os olhos brilhando pegar o Gui no carrinho.

_Que lindo! Ele é a sua cara Duda! Qual o nome dele?
_Guilherme... (Eu soltei num suspiro pesado e sem graça. Era a minha confissão.)

Ela me olhou serena recuou um pouco e depois pediu com um sorriso terno:

_Posso pegar ele?

Eu assenti com a cabeça, ela cuidadosa pegou o menino que logo lhe sorriu.

_Se eu tivesse um filho, o nome dele seria Guilherme. (Ela disse encantada.)
_Eu sei, eu lembro.  (Eu disse sorrindo de nervoso e vergonha.)
_Mãaae! (Uma terceira voz entrou na conversa, era o Anselmo)
_Que foi filho? (Perguntei fazendo um carinho na cabeça do meu pequeno.)
_Pode levar Sucrilhos? (Ele perguntou fazendo carinha de pidão. Eu ri e acenei com a cabeça positivamente  para a alegria do meu filho que largou o pacote no carrinho e saiu correndo de novo.)
_Anselmo, não corre! (Eu chamei a atenção dele que rapidamente desacelerou sorrindo. Logo meus olhos voltaram a encarar aqueles cor de mel.)
_Nossa que lindos seus dois filhos! Tem só eles ou mais algum?
_Só eles. (Eu disse desviando daquele lindo olhar.)
_São maravilhosos... Eu sou louca pra ter uma menina.
_Ainda ta em tempo. (Eu falei sem pensar deixando-a rubra.)
_Será? (Ela me perguntou com aquela velha cara de desafio.)

Virei a face e busquei olhar pro céu, como quem pede ajuda a Deus, mas tudo que encontrei sobre minha cabeça foi o teto. Novamente as lágrimas voltaram a umedecer meus olhos. Parecia que um turbilhão revirava-me por dentro

_Senti sua falta. (Acabei por confessar.)
_Eu também senti a sua. E você nem imagina o quanto.(Ela disse me encarando de forma sofrida. Eu senti o estômago se revirando como se dentro dele estivesse havendo uma revoada. )
_Foi você quem decidiu sumir. (Eu disse tentando ser fria, mas já ligeiramente trêmula.)
_Eu sei... (Ela disse mordendo o lábio inferior.) E sinto muito por isso.
_NÃO! Você não sente! (Me exaltei soltando uma lágrima que rapidamente fiz questão de secar.)

Peguei o Gui do colo dela e me preparei pra sair depressa dali. "Eu sou feliz" Eu tentava repetir o mantra enquanto empurrava o carrinho desviando do dela, quando ia virar pro outro corredor uma mão segurou o meu ombro me fazendo parar. Ela me abraçou pelas costas e disse no meu ouvido.

_Ter tido medo dos meus sentimentos, foi o maior erro da minha vida. Não faça a mesma coisa.

Ela me largou e eu a encarei assustada. Eu estava confusa. Anos e anos sem nem ouvir seu nome e agora tudo aquilo, do nada, vinha a tona sem piedade. Mas como? Como ela conseguiu inserir esse sentimento dentro de mim de tal forma que nem todo esse tempo era capaz de arrancá-lo? Era um turbilhão saindo como um grito, era uma explosão que eu sentia a cada batida no peito. Era como se agulhas andassem por todas as minhas veias. Eu não ia aguentar tantas borboletas passeando em meu estômago.

_Eu ainda te amo. (Soltei vomitando corações com a cara mais sofrida do mundo.) Mas não posso fazer mais nada. Não sei se ainda da tempo.

Ela me encarou chorosa. Eu a encarei talvez com a mesma expressão. O celular tocou era a Lídia. olhei pro visor e rejeitei a chamada. Olhei para a mulher a minha frente, ela pegou um papel e anotou algo em um guardanapo. Me entregou o papel e deu um tímido "tchau".

"Dizer o que a gente sente, pode doer, pode nos machucar, pode simplesmente nos fazer perder o chão e o ar. Mas nada pode nos dar mais certeza de que a gente não foi covarde e de que, fizemos o possível para fazer o certo, de que ser sincero. Ninguém é feliz se esganando com a verdade ao enganar o outro com a mentira. Se for sincero o que me disse me liga. Temos todo o tempo do mundo."

O número dela estava anotado embaixo guardei o papel um tanto incerta. Mas ao chegar em casa. Ver a Lídia  deitar e dormir e acordar ja pensando no meu mantra diário, resolvi quebrar os paradigmas.

"Eu quero ser feliz"

É o mantra que só repeti uma vez. Porque depois daquele dia, de uma despedida longa, de uma ligação sincera e de uma decisão firme, a felicidade estava tão presente em mim, que eu não precisava mais meditar por ela. Jogar tudo pro alto, as vezes é a unica saída. Expôr os sentimentos, vomitar corações... As vezes a emoção é a unica razão.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Mesmo assim eu disse sim.

Não queria que chegasse ao fim,
Mas enfim entendi
Que desse jeito assim
Era melhor não ouvir um sim.
Que não ouvir o mais obvio não.
Eu nao abri a mão
Mas como mágica
O pássaro que eu tentava prender
Se soltou, mas fez valer
O que eu acabei por dizer.
E mesmo sem querer
Me fez ver
O sol nascer diferente.
No meio do mar
Em pleno sol poente.

domingo, 26 de agosto de 2012

Do jeito que Murphy gosta.

Hoje eu acordei e percebi
Que talvez, amanhã, eu acorde
E descubra que sou imortal.
Só pelo fato de que hoje não vejo
Mais graça nenhuma na vida

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Faxina

Ela corria pela casa gritando. Estava tudo fora de ordem. a mesa caída de lado, papeis jogados por todos os cômodos, vasos e enfeites estilhaçados por todo o lugar. Ela corria jogando os cds como se fossem bumerangues, enquanto repetia aos berros como um mantra em versão heavy metal:

_TENHO QUE ARRUMAR ESSA BAGUNÇA!

Ela gritava enquanto bagunçava cada vez mais o lugar.

Correndo para o quarto, ela rasgava as roupas ante de espalha-las pelo local. Sapatos iam sendo arremessados pela janela. No banheiro a água já começava a transbordar pela pia e pelo box, que tiveram seus ralos tapados. Ela continuava seu mantra e correndo até a área de lavar foi lançando sabão em pó e alvejante por onde ela ia. Chegando na varanda encontrou uma planta , que sem parcimônia, retirou do vaso e saiu tacando terra para todos os lados.

Foi correndo até a cozinha. Abriu  a geladeira. Potes com restos de comida foram abertos e jogados para cima. Feijão, arroz, picadinho de carne, yakissoba, molho de tomate, até um pedaço de pizza velha foi lançado pelo ar. Depois os ovos se quebraram pelas paredes. O suco, a água e o leite foram despejados em cima do microondas,fogão, torradeira...

Era como uma máquina de destruição em massa. A casa aos poucos era um lugar impossível de se reconhecer e quando se achava que não havia mais nada para bagunçar, lá vinha um quadro abaixo, gaveta pra fora, talheres e pratos voadores... Ela não descansou nem um segundo e sua garganta não parou nem um instante até que a casa estivesse completamente revirada.

Quando não restou mais nada em seu devido lugar, ela sentou exatamente no local onde estava. Respirou fundo, levou às mãos à cabeça e suspirou. Levantou-se devagar, foi saindo para a varanda, pegou um cigarro amassado no bolso e fumou vagarosamente sorrindo.

Estava tudo arrumado agora.
Tudo ia ficar bem.

Felicidade

Já parou pra pensar no que é ser feliz?

Tem gente que diz que é amar. Tem gente que diz que é viver. Há quem diga que é não sofrer. Tem aqueles que acreditam que só seremos felizes transformando a sociedade. Tem outros que acham que podem comprá-la. Tem aqueles que acham que isso só existe em outra vida. Ou que dizem que só encontrando deus se encontra a felicidade plena.

Nessas horas eu queria acreditar em deus. Pelo menos assim eu acreditaria que está tudo bem em não ter menor ânimo nessa vida. Existiria outra vida onde seria tudo lindo e belo. Entendo porque as pessoas se aprisionam nas igrejas e obedecem cegamente todos aqueles dogmas. A promessa da felicidade eterna é completamente atraente. É muito melhor ver um futuro perfeito, inexistente, que ver um caos, real e recorrente.

Pena que assim como a vida, nossos momentos de alegria são sempre passageiros. Pena que eu não consiga ter essa esperança divina que me proporcionaria um minimo de conforto. Pena que eu nem queira ser rica para ver se um Porsche, um iate e muitas mulheres possam me dar felicidade. Pena que eu já tenha pouca fé até na humanidade, para crer em revolução social.

A alegria só serve para piorar isso tudo. Tem momentos em que penso em desistir de tudo. Dai vem aquele momento, que acende uma pequena fagulha de esperança. Daí tão rápido se apaga e deixa só aquela mágoa que dói. E a tristeza sempre aumenta a cada nova frustração.

A vida é uma droga viciante.

E o pior disso é que nem desistir dela eu quero. Nem a morte me é um conforto. Nem covarde eu sei ser.

Afinal por quer ser? Porque nascer?


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Bipolar

Ela me diz
Que eu quero vencer pelo cansaço.
Mas quem ta vencida sou eu.
Eu só pedi
pra ela me dar mais um abraço
Ela fugiu de novo e não deu..

Cheia de manha me liga
Diz que eu ando sumida
Eu apareço e ela se manda da minha vida.
Se eu ligo ela desliga
Finge que me ignora
Se eu dou o troco ela chora e vai embora.

Depois quem ta fazendo a louca?
Sou eu!
Depois quem detonou a historia?
Fui eu!
Eu sou liberal
Mas quero um porto seguro
Eu sou radical
Mas assim, amor eu juro,
Não dá pra aguentar
Eu só queria te abraçar.

Ela vive dizendo
Que eu sou mulher de fases.
Briga comigo, depois liga e faz as pazes.
Ela sussurra no ouvido
querendo me provocar
Eu vou em cima e ela se faz de bipolar.

Se to na festa e puxo
Ela pra dançar
Ela berra pra eu parar de sufocar.
Mas se eu entro na roda
E balanço o esqueleto
Ela entra em crise e já sai mostrando o dedo.

Depois quem ta fazendo a louca?
Sou eu!
Depois quem detonou a historia?
Fui eu!
Eu sou liberal
Mas quero um porto seguro
Eu sou radical
Mas assim, amor eu juro,
Não dá pra aguentar
Eu só queria te abraçar.

Y e Y

Ele não olha de volta.
Usa a malícia e me sufoca.
Terno, ele me ignora
E logo depois
Arranca-me outro beijo,
Me enche de desejo e
Outra vez, tudo acabou.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Quem acredita?

As vezes, olhando pro tempo, e vendo tudo que aconteceu. Lembrando de cada detalhe. Pensando nos desencontros. Porque alguém acreditaria?
Eu quero uma menina, mas essa menina não quer nada. Ou quem sabe quer, mas prefere não dizer pra não me deixar magoada. Ai me vem outra garota e me diz que me quer. Eu me esforço eu tento querer... Mas não consigo.Qual a probabilidade de querermos e sermos queridos por quem queremos?
All you need is love. Mas onde se acha esse negócio? Só não digo que é mito pois creio que aquele aperto no peito, que dá só de pensar que a menina que quero nem liga pra mim, pode ser o tal do amor.
Mas cadê a reciprocidade? Cadê essa reciprocidade durando para o sempre?
Todos sabem que amor eterno não existe, mas o que todos esperam é que exista. É como o desejo por ser imortal. É impossível mas todos já tiveram esse sentimento alguma vez na vida... Tudo bem, talvez um suicida não. Mas a maioria das pessoas já.
Talvez se simplesmente não existisse a palavra amor, fossemos mais felizes. Sem expectativas nos deliciaríamos nos momentos de prazer a dois... Ou a três  quatro, seis... Não teríamos o remorso, a culpa. Nem o medo ou a desilusão. Seria só a paixão sem sonhos tolos.  O não seria bem menos desagradável de se ouvir. E o sim não criaria um milhão de expectativas a serem frustradas.
Quem acredita no amor? Quem acredita que amar nos torna seres mais felizes. Lembre do seu momento mais infeliz. Duvido que ele não tenha nenhuma ligação com o amor.
O amor é o que dói. As pessoas são maravilhosas, descobri-las é maravilhoso. Ama-las... Isso é o que te faz sofrer. Tem gente que diz que a infelicidade só existe porque somos desiguais nessa sociedade. Mas se pararmos para pensar qual é a unica coisa que faz um rico sofrer? Doença e amor. Ou a falta de amor. A questão é: Se não nos amam, sofremos. Se amam fazemos sofrer. Se amamos e nos amam em algum momento ambos vão sofrer.
Sem amor teríamos menos sofrimento.
Mas enquanto amamos, só nos resta desacreditar e desiludir desse turbilhão que nos afoga com os ímpetos mais naturais, aos desejos mais irreais. O amor é psicológico. O inventamos para ter algo para conquistar. E esse algo não é como uma casa, ou um diploma, que você consegue e tem pelo resto da vida. É uma conquista que tem de ser feita todos os dias.
O amor é só algo que criamos para nos livrar do tédio. E agora esse monstro que criamos se apodera de nossa alma, nos mutila e destrói pouco a pouco. Até nos sentirmos ocos. Ou até ficarmos loucos. Ou até preferirmos morrer para nos livrar dele... Ou matar.
Nós devemos desacreditar nesse sentimento, para nos resguardar. Mesmo sendo infeliz sem o amor, talvez fossemos menos triste.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O que será?

O que seria feito com as vidas se não houvesse a morte?
O que seria do depois se não tivéssemos antes?

O que seria da sorte se não fosse o azar?
O que seria do som sem o silenciar?

O que será?
Do tudo, sem o nada?
Do amor, sem o ódio?
Do prazer, sem a dor?
Do calor sem o frio?
Da paz sem a guerra?

O que será da história da terra?
Temo pelo tédio da perfeição.
E por isso me conformo com os defeitos
de um mundo tirano.

O impecável do pecado
é que sem o tropeço
não haveria acerto.
Mas essa tese só funciona
Para os que estão certos
de permanecer no erro.

Minha utopia é achar que é irreal.
O meu delírio é achar que sou louco.
E a minha força é a de poucos que ousam dizer:
Não precisamos do mal para existir o bem.
Não precisamos da fome dos outros para nos saciar.
Não precisamos do retrocesso do outro para avançar.

Precisamos destruir o equilibrio
Para que todos possam estar do mesmo lado da balança.
Precisamos que todos os adultos voltem a sonhar como crianças.
E o que será do futuro não dependerá desse passado turvo.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Em uma noite, duas.

Estava chovendo. Encontramos abrigo e sem perigo, nos aconchegamos. Estava tão frio. Nos abraçamos procurando nos aquecer. Só eu e Você. Foi tão lindo o dia, vimos nascer a noite, mas nem queríamos pensar no nascer do dia. Só queríamos curtir aquela alegria, na noite vazia, respirando uma a a respiração da outra. Conversando sobre coisas loucas. Rindo dos momentos sórdidos.
Sóbrias, nos embriagávamos do humor da outra. E a cada vez o mundo girava mais depressa, levando nossa pressa, enquanto esbanjávamos nosso apreço. A cada gesto um carinho, a cada carinho um feitiço. Uma noite que nos deixara sobre um encanto. Parecia um conto, onde o seu canto me encantava e então eu suspirava. Um suspiro tão leve e doce... Puro suspiro. Puro momento.
Corríamos contra o vento. E eu segurava em você para não cair, mas quem te segurava era eu. E você se envergonhava ao falar, mas quem perdia a voz era eu. E cada gesto teu, gerava um gesto meu.
E quando abraçadas, seu cheiro já era o meu, e o meu já era o seu. Mesmo com toda a sutileza e suavidade que tudo acontecia, você me entorpecia com inocência. E, sem indecência, nos enlaçávamos entre afagos e meros gestos de esmero. Eu te botava no colo. Você olhava em meus olhos. E nos cuidando, nos descuidávamos. Em poucos afagos o coração palpitava. e o palpite era a amarra, amora, o amigo, a flora.
O amor.

Febril

Toda fagulha pode virar chama. E eu sei que por dentro, quando você comigo não está, meu peito inflama.
Quando de você me lembro eu já aqueço e, mesmo com frio, o suor vem de nervosismo.
A unha acaba eu nem percebo, só espero, roendo os dedos, que você me apareça.
E não adianta fumar um cigarro, que a chama só aumenta.
Com esse calor que você me deixa, nem mesmo o Diabo aguenta.
Eu só queria era sentir teu cheiro pro meu peito esfriar.
Mas desse jeito, com essa distancia, de saudade eu vou me incendiar.
Quase que explodo e solto foguete quando você diz que vem.
E é só te ver pra ter seu aconchego e te abraçar te esquentando também.
Queria ter toda essa calmaria que em seus braços sinto bem, por todos os dias dessa longa vida.
Todos os dias contigo, meu bem.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Poema sem Graça.

Que Graça sinto
ao ver tanta Graça?
Favor faça de me dar
o ar de sua Graça
em um beijo só,
depois de sem Graça.

Me dá um sorriso
gracioso e um
carinho dengoso
onde cheia de gracinha
me enlaço e, de Graça,
te entrego meu ego
e fico sem Graça.

Mas a Graça esta em você
que, tão engraçada,
vem se engraçar comigo
num abraço comprimido
onde agraciadas
permanecemos enlaçadas

sábado, 21 de abril de 2012

Monólogo

Não fale bobagens.
Não pedi para abrir sua boca
para dizer insanidades!
Se cale!
Se cale e não mais diga
o que não sabe.
Faça-me o favor
de com louvor
também não dizeres
o que souberes.
O que sabes
não cabe nessa conversa.
Não quero ouvir tua voz!
Não aguento teus anseios...
Me enoja o seu sofrer
e essa postura
de querer me convencer
a secar suas lágrimas.
Não quero o seu perdão!
Não pedi para ser perdoado.
Nem quero seu amor!
Não quero cadeados!
Te ouvir, pra mim,
é uma tortura.
Só quero ficar só.
Sozinho com a linda pintura
da minha vida sem você...
do meu solitário sofrer.

domingo, 15 de abril de 2012

Planos

Não sei o que pode ser,
só sei o que poderia ter sido.
Queria o eterno,
mas hoje o eterno
esta perdido.
Queria a sinceridade,
mas ela se escondeu
na mediocridade.
Queria o amor,
mas este nunca me encontrou.
Queria  o afeto,
mas só sobrou desconfiança.
Queria o para sempre,
mas o pra sempre é só lembrança.
Lembrança dos planos
que tracei com cuidado
e carinho.
Mas após perder meu mapa
fiquei sozinho
no caminho
das esperanças perdidas
das ilusões desvairadas.
Estou na beira.
Sem estrada.

O que me falta?

O que é se sentir perdido, quando encontrado? Me encontraste, mas, em contraste, continuo me sentindo perdida. Tudo bem, parte dessa desorientação é causada por eu constantemente me perder em seus lábios carnudos, em seu corpo, em seus olhos... mas estou certa de que não é somente minha mente passar constantemente pelas suas curvas, o que faz minha visão ficar turva, nem minha cabeça tão confusa.
Talvez você esteja certa. E essa minha perdição seja a falta de umas certas curvas, que não são suas.

Feliz Aniversário.

Acordei com o sol rasgando minha face. Havia esquecido de fechar a porcaria das persianas no dia anterior. Levantei irritada, fechei aquela desgraça e voltei para a cama. Em vão. O sono já havia ido embora. Levantei desistindo da cama depois de passar um tempo lutando com o colchão. Estava um pouco atordoada. Procurei imediatamente pelo maço de cigarros. Só tinha um ultimo cigarro. Droga, eu teria de sair para comprar mais.
Fumei aquele ultimo enquanto esperava a cafeteira aprontar o café. Quando enfim o aparelho apitou eu ja tinha vontade de fumar outro.
Larguei o café pela metade e a contra gosto desci as escadas (odeio elevadores) do meu prédio e fui até a banca de jornal. Comprei dois maços de Dunhill. Acendi um ainda na rua. Subi as escadas fumando sem me preocupar com as reclamações do porteiro ou com os "xingamentos" das carolas da igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo o Salvador (ou qualquer coisa parecida com isso).
Voltei para o meu "apertamento" e aos poucos fui relaxando de cigarro em cigarro.
Quando ja estava mais calma comecei a fazer meu almoço: miojo de legumes com salsicha enlatada e queijo ralado. Comi pouco, estava uma porcaria! Não aguentava mais ver miojo na minha frente.
Ia voltar a deitar, mas reparei que meu celular piscava freneticamente largado na estante. Vi o que era: Uma ligação de Raúl que eu acabei não atendendo. Não ia retornar, não queria falar com ninguém, mas ele me ligou exatamente na hora que eu ia desligar o aparelho.

_Fala Raul. (atendi com o ânimo de uma lesma.)
_Roberta, vamos sair...
_Não quero. (interrompi.)
_Deixa de ser chata! (Ele começou a fazer a voz chorosa) Hoje é seu aniversário!
_Foda-se.
_Beta! Você tem que superar isso!
_Quero ficar sozinha. (confessei)
_Qual é gata? Essa mina já te esqueceu há meses!
_CALA ESSA BOCA RAUL!(Acabei gritando com o coração acelerado.)

Fez-se um silêncio repentino. Ele tava certo e eu sabia.

_Beta, a Suzana já ta até com outro namorado enquanto você fica ai sofrendo sozinha, perdendo seu aniversário por conta dela!
_Ela ta namorando quem? (Eu perguntei já imaginando a resposta.)
_Erh... (Raul ficou sem jeito.)
_Por favor não me diz que é aquele guri...
_Não vou mentir pra você. É o Guido.
_Puta que pariu! Odeio não ter um pau!
_Não odeie... Por ter um ele vai ser papai.

Entrei numa espécie de transe com aquela frase. Suzana estava grávida. Ta aí uma coisa que eu jamais poderia dar a ela: um filho. Meu peito estava inflamado naquele momento. Parecia que ia explodir. Me bateu um ódio, uma inquietação...

_Vamos sair Beta! Te pago duas Heineken's!
_Quero cigarro. (falei ao acender mais um e constatar que só haviam mais três no primeiro maço.)
_Ok, dois maços de Dunhill então.
_Mais duas Heineken's? (negociei.)
_Tá bom sua charlatã! (ele disse dando uma risadinha.) Mas só porque é seu aniversário.
_Fechado. (disse sem muita empolgação.)
_Ok, passo aí pra te buscar daqui  a pouco, se arruma...
_Ok.
_Beijo sua linda! Te ado...

Desliguei. Odiava telefones. Só tinha um pra ligar pro meu pai pedindo a pensão.
Eu sobrevivia de uma merreca que ele me dava e de uma bolsa da faculdade. Era pouco mas dava pra eu não morrer de fome, intoxicar meu pulmão de cigarro, meu fígado com álcool e ter um lugar meu para ficar agonizando. Morava em um apartamento bem pequeno. Tinha um banheiro, uma cozinha americana que se dividia com o meu quarto/sala.Só havia uma janela além do basculante do banheiro. E para a minha infelicidade a desgraça ficava bem no espaço do meu quarto para me infernizar a cada raiar do dia.
Mas, voltando à história, fui me "arrumar" para sair. Tomei um banho rapido, comi um biscoito cream cracker  (para não passar fome afinal a grana estava escassa. Coloquei uma camiseta preta do Pink Floyd  por baixo de um casaco cinza aberto, uma calça masculina que era de um ex namorado do ensino médio (na época que eu ainda me forçava a ficar com garotos) e all star azul marinho. Me encharquei de desodorante masculino e dei uma ajeitada nos meus cabelos (lisos e negros que vinham até a altura do meus ombros), limpei meus óculos (que eram de aro fino na com cinza escuro e formato quadradinho). Me olhei no espelho, meus olhos verdes estavam avermelhados. Segurei a vontade de chorar, me recompus, peguei a chave, o celular, o resto dos cigarros, meu Zippo, uma nota de dez reais e enfiei tudo no bolso da calça.
Uns vinte minutos depois ouvi a campainha tocar, assim que lembrei de pegar a identidade para não se barrada do bar como era de costume.
Ao abrir a porta tomei um susto. Não era o Raul. Era uma garota de cabelo castanho, curto e repicado, olhos negros vibrantes, baixinha (devia ter um metro e sessenta no máximo). Usava uma baby look verde e um bermudão preto, alargador metálico numa orelha, argolinha prata na outra.
Olhei-a de cima a baixo sem pudor, com uma expressão (creio eu) esquisita. Ela me devolveu um olhar de desprezo e meio que forçosamente abriu a boca:

_Roberta né? (Ela perguntou como quem afirmava.) Olha, o Raul ta la embaixo pediu pra eu te chamar. Vamos. (Falou como se fosse um robô sem expressão.) Aaaa... Ia esquecendo, parabéns! Você acaba de ficar um ano mais perto da morte.

Eu semi-sorri. Enfim alguém tinha uma visão coerente sobre aniversários. Fechei a porta e desci com a garota, não perguntei seu nome, não precisava saber. Ao chegar no carro Raul parecia ter adivinhado o teor de frieza da nossa conversa. Ficou tentando nos fazer conversar. Patético!

_Beta, essa é a Iki!
_Que nome estranho! (Falei sinceramente.)

Ela me fuzilou com o olhar e eu dei ombros.

_Taiki é o nome dela, tem descendência japonesa. (Juan, o namorado de Raul, tentou acalmar a situação.)
_Ela nem parece japonesa! (Eu disse com desdém.) E outra, Taiki não era o nome daquele garoto daquele desenho de japonês... Dos monstrinhos?
_Digimon... (Raul falou rindo.)
_Não tem nada a ver com o desenho! (A menina respondeu revoltada.)
_Da pra gente mudar de assunto? (Juan pediu)
_Claro! (eu disse sorrindo ironicamente), mas continua sendo esquisito...
_Pelo menos eu não sou radioativa. Alfa, Beta e Gama. (Ela disse pomposa).
_Não é o nome de uma radiação, é só uma letra do alfabeto grego. (Eu respondi seca.).

Ela revirou os olhos e disse:

_Foi uma piada, panaca.
_Você tem um péssimo senso de humor. (Respondi bufando.)
_Olha quem fala! (Raul e Juan falaram em uníssono.)

Fomos a viajem inteira trocando elogios no banco de trás. Ainda bem que o percurso era curto, eu estava vendo a hora que o Juan ia se jogar do carro pra se livrar de nós duas.
Paramos no Live, um barzinho famoso da região. Tava bem cheio, mas como tinha uma mesa vagando assim que chegamos decidimos ficar.  Eu até admito que gosto do Live, lá tem mesa de sinuca, ddr(tipo dance dance revolution), telão com clips e tal... Só que gosto do Live lá pelas 4 da manhã, quando não tem quase ninguém pra te encher.
Naquele horário confesso que estava ficando incomodada de estar ali. E ainda tinha a tal de Iki me enchendo o saco, não parava de fazer bolinhas de chiclete. Onde já se viu? Beber cerveja mascando chiclete?

_Que foi? (Ela perguntou percebendo que eu estava a observando.)
_Porque você masca chiclete enquanto bebe cerva?
_Porque eu gosto e daí?
_Vou jogar Pump. (Falei levantando com minha long neck de Heineken e fui em direção à maquina de dança).

Achei que ela pensou que era um convite, porque ela foi me seguindo até o caixa e comprou ficha também.

_Vai dançar? (perguntei).
_Quem vai dançar é você... Eu vou brincar. (ela disse com desdém.).
_Duelo? (eu desafiei).
_Se você acha que pode... (ela respondeu ironica.)

E assim foi:
Escolhi MaxX Unlimeted Another, uma das mais difíceis se não a mais. Ela se espantou com a escolha. Deve ter achado ou que eu nunca tinha jogado, pra ter escolhido logo essa, ou que eu jogava muito. É eu jogo pra caralho. E sempre com um cigarro na mão! Por oito pontos fiquei na frente dela. Depois de dançar essa dançamos mais umas duas difíceis e o resto era fichinha, praticamente não errávamos. A cada intervalo de música ela pegava uma cerveja que nós dividíamos. Só fomos perder la pela 17° música quando já estávamos muito cansadas e bêbadas. Fomos até o o balcão pegar mais cerveja. Dessa vez eu paguei com a nota amassada de dez que eu tinha no bolso. Peguei uma garrafa e entreguei a ela.

_Valeu... Aí, tenho que admitir, você joga pra caramba! (Ela me disse pegando a garrafa e brindando com a minha.)
_Você também... Geralmente a galera cai logo na primeira...
_Também tu coloca logo a mais difícil!
_É pra aquecer rápido... (Respondi sorrindo.)

Aos poucos começamos a falar da vida. Raul e Juan exibiam no rosto aquela expressão de "eu sabia que elas iam se dar bem."

Meu dinheiro acabou, mas os meninos me tranquilizaram e a cerveja continuava a brotar. Falaram que era o meu presente de aniversário e, apesar de não gostar de presentes de aniversário, cerveja é um presente que nunca se nega. Eles estavam doidos pra que eu pegasse a pirralha.. Não que isso nunca tivesse passado pela minha cabeça... Seu humor ácido até que me era interessante. Ainda assim ela não passava de uma pirralha que sabia dançar pump it.
Ela me pediu para ir ao banheiro com ela. Eu disse que tava com preguiça. Ela me encarou contrariada. Comecei a rir assim que ela se levantou decepcionada e foi sozinha. Raul e Juan viram a cena e balançaram a cabeça em tom negativo. Continuei bebendo com eles, mas passou um tempo e eu reparei que a guria não voltava. Marquei uns cinco minutos e depois levantei dizendo que ia pegar outro maço de Dunhill e mais cerveja. Raul me deu uma nota de vinte. Levantei e como, milagrosamente, o Live tava esvaziando dava pra ver as pessoas bem mais fácil. Cheguei perto do balcão e finalmente encontrei a pirralha. Ela tinha no máximo 19 anos e eu com meus 26 tinha ido atrás dela sei o porquê.
Ela estava agora conversando com uma garota de moicano vermelho e cheia de piercings. Olhei automaticamente de rabo de olho, ela sorria com certo ar de triunfo. Virei-me para o atendente e peguei a cerveja e o maço. Quando voltei minha atenção para as duas elas seguiam juntas para uma mesa de sinuca.
Olhei ao redor e vi uma garota loira, sozinha, indo em direção à outra mesa com uma ficha na mão. Delicadamente puxei-a pelo braço e perguntei:

_Oi, sabe jogar?
_Sim... (ela respondeu me entregando um caprichado sorriso).
_Topa fazer dupla? (perguntei retribuindo-a um sorriso meio amarelo).
_Topo! (ela respondeu me entregando a ficha).

Puxei-a pela mão e a conduzi até a mesa onde as outras duas estavam arrumando as bolas.

_Dupla contra dupla? (falei sem medo pondo a ficha sobre a mesa).

A ruiva me encarou com uma expressão estranha, Iki sorriu desdenhosa.

_Eu topo. (A garota de moicano falou tirando uma moeda do bolso) Vai de cara ou coroa?
_Vocês começam. (respondi dando os ombros.)
_Qual o nome de vocês duas? (A ruiva de moicano perguntou enquanto Iki jogava).
_Maiara. (A loira respondeu.)

Eu permaneci calada e encaçapei logo uma vermelha.

_Ela é a Roberta, ou Beta, como preferir. (Iki respondeu por mim.)

Dei mais uma tacada deixando outra bola na boca da caçapa. Era a vez da ruiva.

_Eu sou a Gabi. (ela disse dando uma tacada cega em um bolo no canto da mesa, por sorte uma amarela entrou. Deu uma segunda tacada e por pouco não encaçapou outra.)

Maiara jogou e pôs outra bola na boca. Iki conseguiu tirar a que eu tinha colocado na boca e ainda encaçapou mais uma amarela. Matei a que a loira tinha deixado mole. Dei mais uma tacada e por sorte encaçapei mais uma. Da terceira vez consegui só bater na ultima vermelha mesmo, a posição estava péssima, e ficou ainda pior depois que eu taquei. a próxima pessoa ia ter que bater de canhota.
Gabi tentou se acertar para dar a tacada, mas estava difícil. Iki foi por trás dela meio que a abraçando para ajudar a ajeitar a posição. Gabi deu a tacada e encaçapou.
Maiara jogou mal e deixou a ultima mole para as duas. Iki colocou com facilidade a ultima bola na caçapa. e na posição que a bola tava era bem a caçapa que eu precisava livre. Eu fiquei extremamente irritada, tanto com a loira quanto com a Iki.
Decidi acabar com a brincadeira, mirei com muito cuidado, devo ter demorado uns tres minutos pra tacar. Por um triz, minha bola bateu rapidamente na amarela que estava praticamente morta e lentamente entrou na caçapa.
Sorri vangloriosa e joguei o taco sobre a mesa. Não sabia o porquê mas continuava irritada. Saí dali sem dizer nada e peguei a cerveja da mão do Raul.

_Onde você estava? (ele me perguntou estranhando).
_Me divertindo. (disse sentando.

Cinco minutos depois aparece a Iki com um ar enfurecido.

_Maiara ta te procurando. (Disse entre dentes.)
_Deixa ela procurar. (respondi soltando a fumaça de meus pulmões.)
_Você é uma idiota.(ela respondeu incomodada.)
_Você é má perdedora. (Respondi dando uma golada na cerveja.)
_Você se acha!
_Não me acho. Simplesmente sou. (respondi rindo.)

Ela se calou bufando, ia abrir outro chiclete. Eu gargalhei.

_Que é? (ela perguntou exaltada.)
_to feliz não posso?
_Vai se fuder!
_Sozinha não tem graça. (Disse fingindo estar pensativa.) Será que a Maiara me daria uma mão? Ou duas talvez...
_Sei la. Pergunta à ela. (Iki respondeu baixinho se contendo.

Encarei a pequena e disse-lhe pra se aproximar pois eu iria lhe contar um segredo. Ela chegou mais perto, ainda emburrada. Encostei minha boca em seu ouvido, mordi , seu lóbulo, seu pescoço... Logo puxei-a para um beijo que foi mais do que correspondido. Juan e Raul não entenderam. nada. Mas quem precisava entender algo? Só nossas línguas entrelaçadas... Nós duas abraçadas...
Hoje eu posso dizer:
Foi um Feliz Aniversário.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Conforme a idade

Eu já me conformei,
não vou ter você.
Mas eu não esqueço
e não sei o porquê.
a vontade de te ter
é tão imensa...
e sua voz que ecoa,
tão intensa!

Tão serena...
essa vontade de te dar
só um carinho
para demonstrar
que serei só seu amigo
pra poder contigo estar
no fim de semana,
sentindo o cheiro
que sua  pele emana.

Não posso dizer
que sou inocente,
mas o sentimento
me vem do inconsciente.
Não quero parar
de pensar no seu sorrir.
Não quero sentir,
mas já não consigo fugir.

Basta um só olhar
para eu não me conter,
mas eu sei...
eu não devia
Olhar tanto pra você.
Um só abraço
já faz disparar
todas as sensações
que eu quero apagar
para construir
uma outra história.

Queria ter mentido
para não te dizer
tudo isso que eu tenho
sentido por você.
É um turbilhão.
É contradição.
Desejo? Só? Talvez? Paixão?
Será nunca?
Me diga o não
ou não.

domingo, 25 de março de 2012

Desculpe a melancolia.

Depois dela eu nunca mais consegui acreditar de fato no amor. Por mais que eu sinta, o que sinto é que eu vou morrer no final. Ela nem foi a pessoa que mais amei, mas sem dúvida a que mais me decepcionou.
É difícil esse negócio de gostar de alguém e não querer ninguém, ou de se decepcionar. Parece que vai tirando a graça da vida...
Vai ver que é por isso que o corpo humano pára de se regenerar depois de um tempo. Vai ver que é a desilusão da ilusão de criança que faz a gente acabar envelhecendo e morrendo. Talvez, no fundo, a gente morra é de tristeza. A questão é que até a morte nos deixa amuados. Ela não é um alívio, é uma fuga. Fuga da vida que a gente não consegue ter.
Fuga daquilo que a gente mais queria, mas tem medo de conseguir ter. A gente acaba sofrendo pelo o que seria a solução do nosso sofrer. A morte é a fuga do viver. A vida não tem sentido sem o risco. Por isso nos matamos pouco a pouco sem erguer a cabeça e seguir em frente.
Acho que não adianta se esconder e fugir. Isso é só a procura pela morte da alma. Desacreditar em tudo não vai nos fazer mais felizes. Só vai nos machucar e nos fazer envelhecer mais cedo. Temos que tentar ser crianças de espírito. Pelo ao menos tentar manter as ilusões desiludidas. Se não, não sobrevivemos às desilusões da vida. É por isso que eu queria muito... Por isso que eu queria ter coragem. Mas é mais fácil ser covarde do que evitar o caos que vem mais tarde.

segunda-feira, 19 de março de 2012

De novo nada.

Por que de novo?
Você errou!
E não é a primeira vez.
Queria te arrancar do meu ser
de uma vez.

Você não sabe?
Eu não quero assim!
Quero a saudade
de querer alguém pra mim.

Eu já te disse:
Me deixe em paz!
Os sentimentos
no momento
só me levam pra trás.

Não quero mais
me apaixonar,
Mas esse coração estúpido
parece não saber
bater sem amar.

A tristeza do homem

Uma lágrima no olhar.
Um choro silencioso.
Só isso...
e tudo parece perdido.

Como podem poucas gotas,
escorrendo pelo rosto,
trazerem tanto desgosto,
se a vida parecia
galgar para o Paraíso?

Como pode um soluçar
destruir tanto prazer?
Como pode o ser humano
fazer sofrer o outro ser?

Sem Inocência

Você só usa
as pessoas como trapo.
Você abusa
pisa em gente, como um sapato,
gastas e sujas.

As coisas que você toca
se tornam impuras.
Você não nota,
mas a culpa não é delas,
é sua.

Ímpio e imundo,
o seu dedo é sujo
Midas com inversão
seu dedo toca a seda
e ela vira pano de chão.

Úmida, suja,
jogada num canto,
sozinha, cuspida...
Despida.

Egoísmo

Estou cansada da sua ignorância,
da sua apatia,
de minha simpatia
por você.

Já cansei de esperar o acaso
sabendo de nosso
futuro raso,
do seu desapego.

Queria seu aconchego,
queria seu abraço,
mas em seus braços
só cabe você.